quarta-feira, 22 de julho de 2009

O Rio Zambeze...



Rio Zambeze, tem 2755 kms de comprimento, nasce na Zâmbia, passa por Angola, estabelece fronteira entre Zâmbia e Zimbabwe, atravessa Moçambique e desagua no oceano Indico, a sul da cidade de Chinde. Ao longo do rio existem 2 conhecidas barragens, Kariba e Cahora Bassa. O ponto mais espectacular do rio são as Cataratas Vitória.

No século XIX, este rio foi alvo das expedições dos portugueses Serpa Pinto e Hermenegildo Capelo.




O nosso aquartelamento na Lumbala a Nova, hoje chamada Lumbala Kaquemgue, ficava situado na sua margem esquerda, perto da afluência do rio Lumbala, e era dele que nos abastecíamos de água e, em algumas folgas, não deixavamos de lá ir dar uns mergulhos... Mas antes, tínhamos de nos acautelar com a possível presença de jacarés!...

(clique no mapa para o aumentar)


Na outra margem existia a Lumbala Velha, onde uma companhia independente tinha o seu aquartelamento. Para fazer a travessia de pessoas, viaturas e víveres, havia uma balsa, julgamos que construída pela JAEA, pois a partir da Lumbala Velha construíram uma picada com ligação ao Lucusse.

domingo, 19 de julho de 2009

TEIXEIRA DE SOUSA...hoje LUAU...


Isidoro, Luís Lima, João Breda e Manuel Lorena (Teixeira de Sousa-Angola).

Mês sim, mês não, a nossa companhia estava escalada para fazer a escolta ao MVL, ou seja às viaturas civis que de Teixeira de Sousa, pela picada do Saliente Cazombo, vinham em coluna, a fim de abastecer de víveres as populações civis, mas também os diversos aquartelamentos e destacamentos militares instalados naquela área. O fim da linha era a Lumbala a Nova, onde cada MVL se iniciava e terminava.


A "Berliet" da cabeça da coluna...


Partíamos manhã cedo, dando início à 1ª etapa até ao Cazombo. Na frente da coluna duas "Berliet", sendo a primeira considerada como a "rebenta minas", para o que levava no solo da cabine diversos sacos de areia. Em cada uma delas seguia uma secção - 5 homens. Felizmente, connosco, nunca efeito de rebentar minas foi sentido. Seguiam-se as viaturas civis e na retaguarda dois "Unimog", também com uma secção cada um.
Pelo caminho iam-se integrando as viaturas civis, que entretanto tinham abastecido os seus clientes e, agora, regressavam a Teixeira de Sousa, para daí a 4 ou 5 dias regressarem na nova coluna (MVL) com novas mercadorias.
Pernoitávamos na sede do Batalhão (Cazombo) e iniciávamos, na madrugada do dia seguinte, a 2ª etapa. Normalmente fazíamos uma pequena paragem no Cavungo (Nana Kandundo) onde se encontrava a 3ª companhia do nosso Batalhão.
Antes de chegarmos a Teixeira de Sousa, ainda fazíamos paragens técnicas (reorganização da coluna) no destacamento do Massivi e depois no Marco 25, este já sob jurisdição do Batalhão afecto a Teixeira de Sousa.


...um dos Unimog da retaguarda...vendo-se ao longe uma viatura civil...


As picadas eram de um piso horrível, salvo raras excepções de troços recentemente reparados pela JAEA... Por isso as viagens eram sempre muito atribuladas, tanto mais que, por vezes, numa noite de intempérie podiam-se abrir longas e profundas valas nas ditas ou mesmo derrubar enormes árvores que nos obstruíam a passagem...

E se na época das chuvas tinhamos de levar o poncho(impermeável)vestido, para nos livrar de grandes molhas, o que nos tolhía os movimentos e por isso, nos dificultava, em caso de necessidade, uma rápida reacção , já com a época de calor as nuvens de pó levantado nas picadas era de tal forma, que por vezes deixavamos de ver as outras viaturas, quer civis ou militares, perdendo por completo a ligação... Para minimizar as inerentes dificuldades usávamos óculos "tipo motociclista" e lenços a servir de máscara, mas isso de pouco valia, pois o pó era tão fino que se infiltrava por tudo quanto era buraco!


...preparativos para saída em escolta ao MVL...





Chegados a Teixeira de Sousa, e depois de um banho reconfortante, vestíamos a nossa farda nº 2 ou a roupa à civil e íamos até ao centro da Vila... Alí, corríamos ao SEPOL, em cujo restaurante nos deliciavamos a comer um bom bife com ovo a cavalo ou uma alheira com todos os matadores...Depois à noite, caso fosse fim de semana, podíamos ir ao cinema e caso fosse verão ir ao clube assistir às verbenas locais...


Enfim, uns dias de "civilização" para quem durante dias e dias só via mato!
Na foto acima, tirada na fronteira do Luau(Angola-Zaíre ex-Congo Belga), para além do agente da Polícia Portuguesa, em baixo: Raposo e Cunha , no meio: Luís Lima e atrás: Galinha, Lininho(3ª Comp.) e Pedro Manzoni...

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Cerimónia de homenagem aos militares falecidos ao serviço de Portugal



excerto do www.marinha.pt/extra/revista/ra_mar2000/pag...


Ocorreu no passado dia 5 de Fevereiro(2000)a cerimónia de inauguração das placas com os nomes dos militares mortos em combate no Ultramar, junto ao Monumento dos Combatentes, em Belém.

Na cerimónia, presidida pelo Presidente da República, Dr. Jorge Sampaio, estiveram presentes o Ministro da Defesa Nacional, o Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, os Chefes dos Estados-Maiores da Armada, Exército e Força Aérea, entre várias autoridades civis, militares e religiosas.

O programa da cerimónia iniciou-se com a celebração de uma missa de sufrágio em memória dos combatentes falecidos na Igreja da Memória, seguindo-se a concentração junto do Monumento dos Combatentes do Ultramar.

O Presidente da Liga dos Combatentes, General Morais Barroco, ao usar da palavra agradeceu a todos os presentes, salientando a acção do Professor Doutor Veiga Simão, a tempo Ministro da Defesa Nacional, que possibilitou a concretização do memorial concedendo as verbas necessárias para o efeito. Em seguida fez um resumo descritivo da história do monumento cuja construção foi iniciada em 1987, com a constituição de uma Comissão Executiva constituída pela Liga dos Combatentes, Sociedade de Geografia de Lisboa, Sociedade Histórica da Independência de Portugal, Associação de Comandos, Associação dos Combatentes do Ultramar, Associação da Força Aérea Portuguesa, Associação dos Especialistas da Força Aérea Portuguesa e Associação dos Deficientes das Forças Armadas. A Comissão deu por concluídos os seus trabalhos em 15-01-1994 com a inauguração da primeira fase do Monumento, presidida pelo então Presidente da República.

Aquela primeira fase da construção, correspondeu à edificação de um simples pórtico de grandes dimensões, que procurava traduzir o seguinte:

grande pureza formal e simbólica;

grande simplicidade e carácter unitário;

a união entre todos os povos envolvidos na guerra do ex-Ultramar português, sem constrangimentos nem ressentimentos.

Afirmou ainda que, após a conclusão da segunda fase, passamos a desfrutar de um Monumento vivo, que agora é procurado por todos aqueles que passaram pelo ex-Ultramar português como combatentes, pelos seus familiares, pelos familiares dos que tombaram nesses territórios e por todos aqueles que se interessam pela História de Portugal.

A concluir afirmou:

"Quer queiramos quer não, os soldados portugueses deram um forte contributo para que a língua portuguesa seja falada em todos os continentes e agora, que estamos em paz, será bom que outros soldados continuem esse trabalho para que, dessa forma, possamos continuar a manter a grandeza de Portugal.

Termino, fazendo votos de que Portugal continue a ser um País livre e independente, um País digno e defensor da sua história e que os portugueses, não tenham vergonha do seu passado, dos seus antecessores, em especial daqueles que tombaram por Portugal.

A Vossa Exª., Senhor Presidente da República, e a todos que se dignaram estar presentes nesta simples, mas significativa cerimónia, o agradecimento de todos os Combatentes".

O Presidente da República na cerimónia de homenagem dos militares falecidos ao serviço de Portugal, proferiu um discurso que passamos a citar:

Agradeço, reconhecido, aos promotores desta iniciativa o gesto de deferência que tiveram para comigo ao adiar esta cerimónia, permitindo-me, assim, estar aqui hoje convosco.

O Estado democrático, ao assentar os alicerces do novo regime, saído do 25 de Abril, na Declaração Universal dos Direitos do Homem, permitiu ao Estado democrático resolver as suas causas políticas da Guerra. Mas até hoje, estava por prestar a homenagem devida aqueles que morreram lutando sob o Estandarte de Portugal. Era tempo de o fazer.

Sinto, ao curvar-me em respeito perante a memória destes homens, a mesma comoção que sempre sinto quando, em visita a unidades militares, o clarim soa o toque de silêncio e de homenagem àqueles que ao longo de décadas e séculos tombaram ao serviço do seu país.

Seja-me permitido presumir que talvez eu, pelas funções que desempenho como Presidente da República e por todo o meu passado político, possa deixar hoje, a todos os portugueses, uma mensagem e um apelo.

A nossa responsabilidade maior, aquela pela qual seremos invariavelmente julgados, é para com o futuro de Portugal, garantindo a sua perenidade. É para isso importante, entre tantas outras coisas, naturalmente, que os portugueses aprendam e sintam orgulho em amar e a servir o seu País.

Para o amar têm que o conhecer. Conhecer o território em que vivem e a História que nos permitiu chegar aqui. Uma História com oito séculos. Sobre ela, sobre cada um dos seus momentos mais relevantes, existem sempre, diversas interpretações, por vezes polémicas. Ainda bem, a diversidade de leituras interpretativas é importante.

A grande virtude dos regimes democráticos, em relação às ditaduras, é que a democracia não impõe uma leitura excluindo todos aqueles que não se reconhecem numa interpretação oficial. A vitalidade histórica de um povo reside na sua capacidade de compreender essa diversidade e, ao debatê-la, não fazer dela um território de desencontros e de rupturas com a própria história.

Compreendo que a jovem democracia portuguesa tenha tardado em realizar esta cerimónia, Mas ainda bem que assim foi. Feita muito mais cedo, ela não teria encontrado condições para se transformar num gesto verdadeiramente nacional, porque se teria deparado, inexoravelmente, com um contraditório de sentimentos sobre a Guerra em África que só o tempo permite colocar no seu devido contexto. Estaríamos então a debater se esta era uma homenagem às causas da guerra, dividindo-nos nisso, e não, como é nossa obrigação a prestar uma homenagem aos portugueses que serviram o seu País.

Só é possível estimular os portugueses a saber servir Portugal, se todos soubermos, devidamente homenagear aqueles que o serviram e por ele morreram. Apelo, por isso, aos portugueses para que saibam sempre servir e amar o seu país e aos poderes públicos para que saibam sempre elevar-se acima das polémicas e homenagear devidamente aqueles que o serviram.

Longe dos juízos da história, ao percorrer o silêncio irreversível daqueles nomes e o drama, irreparável, de quem perdeu a vida, evoco o sentimento e a angústia de quem perdeu os seus familiares. Não há palavras de conforto que minore esse sofrimento. Que este monumento e estas lápides fiquem, por isso, como um testemunho perene desse sacrifício feito sob a Bandeira Nacional.

Seguiu-se o descerramento das lápides que perpetuam os nomes dos militares falecidos ao serviço de Portugal.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

...em Luanda...



Breda e Isidoro, fardados a rigor, passeando na baixa de Luanda...
Julho 1973

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Recordando...



Durante a minha permanência em Angola, mais propriamente na Lumbala Nova, nunca tive a intenção de escrever um diário e, muito menos, um livro...
No entanto valendo-me de uma agenda, que havia comprado na livraria Lello em Nova Lisboa (onde também comprei o “best seller” CRISTO RECRUCIFICADO de Nikos Kazantzaki, que me custou 100 angolares), aquando do nosso embarque no “mala” (comboio dos CFB que ligava o litoral – Benguela – ao interior – Teixeira de Sousa, na fronteira - Luau - com o Zaire (ex-Congo Belga), gostava de ir anotando algumas passagens ou coisas, que na altura pareciam banais, e, hoje, leio com curiosidade.
Mas, ainda voltando a essa fugaz passagem por Nova Lisboa, para dizer que isso aconteceu no dia 22 de Agosto de 1973, depois de uma viagem desde Luanda (Grafanil) na caixa de um camião, que usualmente transportava frutas e outro produtos agrícolas do interior até Luanda.
Lembro-me que nessa viagem passamos pela Quibala e bordejamos o colonato de Cela. Chegados a Nova Lisboa, pernoitamos no quartel do EAMA e, pela manhã, avançamos até à estação dos CFB a fim de embarcar no dito comboio.
A viagem durou três dias. Ao fim do primeiro, chegamos a Silva Porto, onde o comboio parou para pernoitar. No final do segundo, a paragem foi no Luso e, no terceiro dia, chegamos a Teixeira de Sousa, depois de havermos passado as estações do Léua, Lumeje e Luacano.
Foi uma viagem de certa forma atribulada para o nosso grupo de combate, o 2º pelotão, pois das carruagens que estavam destinadas à tropa uma delas era de bancos de madeira, como o nosso grupo ficou instalado nessa no primeiro dia, o Aspirante Ulisses achou isso como uma afronta, pois tinhamos estado de serviço no dia anterior, e, embora, os nossos superiores lhe explicassem que haveria rotação de carruagens, ele por “birra” não o quis fazer e “obrigou” o grupo a permanecer nessa carruagem e a fazer toda a viagem em grande desconforto… A partir daí, alcunhou o 2º pelotão de “Os Costas Largas”, nome que nos acompanhou durante toda a comissão!
Voltando à dita agenda…
As primeiras anotações que encontro são relativas à língua da etnia LUENA, que habitava a região do Saliente Cazombo. De notar que esta língua tinha alfabeto e escrita. Consegui um dia que me dessem um pequeno livrinho com a História do Nascimento de Jesus escrito nessa língua e que havia sido publicado há muitos anos por missionários, que tiveram as suas Missões nessa região. Na Lumbala Nova, junto às laranjeiras (ao fim da pista de aterragem), ainda se podiam ver ruínas duma dessas Missões. Estas com o início da guerra foram abandonadas.
Como algumas dessas palavras ainda estarão na memória dos meus amigos, vou aqui recordá-las:
Eu – IANI; Tu – IOVE; Eles – NENO;
Sim – ENGA; Não – TCHICO; Muito – TCHICUMA ou CANA;
Saudação – MOYO ou MOYOOVE; Estás bom? – NAYOYO ou CHAMUANZA;
Dia – MUSSANA; Noite – FUCO; Hoje – LELLO; Ontem – ZAU;
Bem vindo – TAMBOKA; Amanhã - AMÉNE ;
Mentira – MACULI; Mentiroso – MACULIOVE; Verdade – TCHAMBOENDE;
Aonde – CULI; Não sei – CUIJI; Ainda – CANDA;
Vou e volto – MUKEZA; Vai embora – YAKO ou FUMACO ou FUMA;
Maluco – ZALUCA ou CHILEIA;
Casa – MUSU; Avô/Avó – CACA; Mãe – MAMA; Pai – TATA; irmão(ã) – SONGO;
Filho(a) – MAMANE; Meu neto – MUSUCOLIAMI;
Fogueira – TIJICO; Lume/Fogo – CACAIA; Tronco na figueira – COCUNHO;
Sol(calor) – MUSSANA; Estrela – TAGANHICA;
Dinheiro – JIMBONGO; Nada – PIMBE ou COCE;Cigarro – CARICANHA; Um cigarro – MACANHA; Vários cigarros – LICANHA.

E mais, encontrei escrito, num guardanapo, não sei por quem, a seguinte canção de Natal em Luena:

É Natal
É Natal
Fucu à natal
Tunguelô vossemá
Nanahililá

Jessu Nassemuca
Mieje jiáivulo
Tunguelô vossemá
Nanahililá

Mas...Há mais… Esperem pelos próximos relatos…

sábado, 11 de julho de 2009

ANGOLA À VISTA!


FOTO: Na Escola Prática de Engenharia em Tancos.
Fevereiro de 1973 (Curso de Minas e Armadilhas)


Chegamos a Luanda… A primeira imagem é toda aquela terra vermelha…África!
E lá fomos para o Grafanil… Era uma azáfama de gente (militares) e viaturas…Puseram os nossos homens numa caserna bem arejada e a nós sargentos (furriéis) numa casa de madeira em cujo telhado só se viam osgas a passear…(coitadinhas das “aborboletinhas”)… Fujimos logo dali e fomos pedir asilo na Setubalense bem perto da Mutamba (onde se apanhava o “machibombo” para o Grafanil…), até que rumamos à Funda para fazer o I.A.O., ou seja a adaptação à zona operacional… Na Funda ficamos instalados num antigo colonato e dali partíamos em pequenas operações pelas matas do Catete…Para quem desconhecia as matas e florestas africanas foi uma experiência inolvidável, onde ataques de formigas “salalé” e de pulgas “matacanhas” nos deixavam desesperados… Depois a visita a algumas fazendas da região…uma delas a Maria do Carmo ou seria Maria Helena?!...
Nos momentos de folga dávamos uns “raídes” até ao Cacuáco e tirávamos a barriguinha de misérias a comer camarão e caranguejos de Moçâmedes bem regados com uns “canhangulos”.
Mas o Leste estava à nossa espera e era preciso rumar até lá…
A 21 de Agosto partimos do Grafanil, qual carregamento de verdes melões…Todos de camuflado nas carroçarias das camionetas, que normalmente traziam frutas e produtos agrícolas do interior até Luanda…!
Passamos pela Quibala…pelos colonatos da Cela e…
Chegamos a Nova Lisboa já noite. Fomos pernoitar no quartel do EAMA.
De manhã levaram-nos para a Estação dos Caminhos de Ferro para apanharmos o comboio da linha do leste – o Mala (Caminhos de Ferro de Benguela), mas este saiu tardiamente e no primeiro dia fizemos somente um pequeno percurso até Silva Porto. No dia seguinte fomos até ao Luso…o Leste era já ali… Passávamos por estações apinhadas de gente indígena que nos tentava vender fruta ou outra coisa qualquer e os “canhicas” (assim se chamavam os miúdos – os putos – na língua Luena) pediam-nos latas (de ração de combate). Se algum de nós atendia o pedido e lhes atirava uma, era uma alegria e uma correria desenfreada a ver quem a apanhava! Numa delas cruzámo-nos com um Esquadrão de Dragões, acabados de terminar uma patrulha a cavalo pelas “chana” queimada, todos eles negros do fumo e do carvão, quase não reconhecíamos o Pereira, nosso conterrâneo de Arrancada do Vouga, furriel naquele esquadrão…
Depois eram as paragens técnicas em lugares específicos, pois era necessário que se fizesse o reconhecimento da linha a ver se estava limpa e livre de qualquer perigo…
Tudo aquilo desfilava aos nossos olhos como tirado de um filme já visto…O Dr. Jivago, mas com menos neve…e mais, muito mais, quente. E claro sem ponta de Vodka ou algo parecido!
A chegada à Vila de Teixeira de Sousa, o fim da linha, era uma festa. A vida parava na Vila para vir assistir à chegada do Mala…Era um amigo, um familiar, uma encomenda que nele chegava ou a simples curiosidade de ver chegar o comboio, o que atraia tanta gente à estação. Naquele dia chegou tropa, muita tropa… Fomos logo encaminhados para o Quartel de Teixeira de Sousa onde aguardamos pelas viaturas que nos haviam de levar picada abaixo até ao Cazombo e depois à Lumbala.
Foi mais uma aventura, pois tudo era para nós desconhecido…Quando atravessávamos alguma ponte, normalmente com sanzalas por perto, as inúmeras fogueiras faziam-nos lembrar algo irreal…Chegamos ao Cazombo, sede do Batalhão. A coluna desmembrou-se e nós seguimos mais para sul…ao longo do Zambeze.
Chegamos à Lumbala já noite. Toda ela estava iluminada com inúmeras fogueiras… A recepção, dos que lá estavam, aos “maçaricos” não podia ter sido melhor. Parecia uma cena tirada do “Apocalipse Now”, mas sem explosões, note-se… Afinal eram os substitutos, há tanto esperados, que os vinham substituir e assim proporcionar o seu regresso ao “Puto”. Ainda ficaram por lá uns dias e foram-nos transferindo instalações, experiências e até as lavadeiras…

terça-feira, 7 de julho de 2009

...e o 6º Pelotão?...



Sim, havia o 6º Pelotão!…
O dos canídeos, como diria o nosso saudoso Fernando “Bago-Mestre”.
Efectivamente a nossa companhia havia sido reforçada, como tantas outras, com um 6º Pelotão.
Afinal, não eram só os quatro pelotões de atiradores, também conhecidos pelos amanuenses de G3, e a Formação, vulgo “aramistas”, pois com excepção dos condutores auto todos os outros raramente saíam fora do arame!...

Mas voltemos ao 6º Pelotão, o dos canídeos…
E, então, era assim:
- o “LEÃO”, o “JOLY”, o “RR” do depósito de géneros, o “Passa Fome” da cozinha,
o “Papa Mike” do posto de rádio, o “SIMBA II” do 4º grupo, o “ZZ” do 2º grupo.
A Messe de oficiais tinha o “LUVAS”, o “FIDALGO”, a “Natália” e a “Milu”!
E os sargentos o “BAGAÇO”!
O Posto de Rádio tinha também a “INDIA” e na arrecadação o “ZAMBIA”…
Havia a “Arlete” na ferugem e, a “RITA”, por lá andava…
Depois houveram o LUFUIGE, o SIMBA I, o ASMÁTICO (que era o Rei e Senhor), a “CHAMUANZA”, o “ LUMBALA” e o “MORTEIRO”, que por este ou aquele motivo, na maioria vítimas de acidente, foram abatidos…
Entretanto houve regeneração e novos elementos foram aparecendo:
Para a messe de sargentos o “LUMBALA II”, para a secretaria o “ SECRETÁRIO”, na cantina o “EMBAIXADOR”, na arrecadação o “CHAMUANZA II” e o 2º pelotão com o “BB”.
Uma palavra final para o nosso “gasolinas”, o Mário Inácio, que cuidava do “TROVADOR”…

Era este o nosso 6º pelotão!
Por sinal não muito operacional, mas sempre pontual à hora do rancho!
E…divertido que "baste", para animar e entreter o pessoal no passar infindo das horas…

João Carlos Breda
Furriel Miliciano - Atirador

segunda-feira, 6 de julho de 2009

...o campo minado nas margens do Lufuíge...



No decorrer de uma operação, a nível de companhia, que nos levou a Caripande, na fronteira com a Zâmbia, ao passar pelas margens do Lufuíge, afluente do Zambeze, descobrimos um capo de minas.
Esta foto mostra um dos exemplares das cinco minas "viúva negra" levantadas pelo então furriel Breda e pelo David, 2º comandante dos GE...
A mesma sorte não tiveram os fuzileiros, que pratrulhavam a outra margem, e, embora tenhamos emitido alerta via rádio, informando da existência do referido campo minado nas margens do Lufuíge, não evitaram um rebentamento e a necessidade de uma evacuação via heli...
Momentos de grande tristeza e grande apreensão vividos naquelas paragens...

domingo, 5 de julho de 2009

XI Encontro 13.Jun.2009-Celorico De Basto



Em 2009 a realização do XI Encontro. Como acima referimos foi em Celorico de Basto, no dia 13 de Junho e contou com uma excelente organização do Silvino Maia, bem coadjuvado pelo Armando Durães e pelo Fernando Barbosa (ex-Furriel do Pelotão de Canhões, que, naqueles já longínquos anos, cedo adoptou a nossa Companhia como sendo também sua...
Estes encontros vêm sendo realizados anualmente, após uma primeira iniciativa em Montemor o Novo, numa organização do João Arraiolos.
Esse 1º Encontro, teve lugar, como já dissemos em Montemor-o-Novo, em Abril de 1999.


No ano seguinte, em 2000 - Viseu (org. Jose Ferreira e António Gomes);

Em 2001 - Ceira - Coimbra (org. Carlos Silva);

2002 - Tomar (org. Farias);

2003 - Guimarães(org. Armando Carlos Durães e Carlos Silva);

2004 - Abrantes - no Regimento de Abrantes, antigo RI 2 (org. Manuel Galinha);




2005 - Águeda - Hotel Palácio de Águeda (org. João Breda);




2006 - Lisboa (Loures-Ericeira/Rest.O Cangalho - org.Manuel Lorena e Pedro Mazoni)


2007 - Matosinhos (Custóias)- (org. Jorge Sousa);
2008 - Chaves (org. Joao Pires);

No próximo ano - 2010 - será em Santarém, numa organização do Guilherme.
Lá estaremos!

sábado, 4 de julho de 2009

As 5 equipas de futebol da nossa companhia...


FORMAÇÃO



1º PELOTÃO


2º PELOTÃO (Os Costas Largas)


3º Pelotão



4º Pelotão

ATAQUE A LUMBALA COM MISSEIS "TERRA-TERRA"...



Na foto acima, podemos ver os restos dos mísseis "Terra-Terra", que foram lançados pelo M.P.L.A. sobre a Lumbala a Nova em Julho de 1974...
Felizmente, nenhum acertou no quartel ou zonas habitadas (sanzala, aldeamento dos GE ou flechas)...
A pronta reacção das nossas tropas, que ao visualizarem um estranho foguete ("very-light"), de imediato abandonaram o campo de futebol, onde se disputava uma partida de futebol entre civis e militares, e fizeram alguns disparos de morteiro e do canhão(sem recuo), que à porta de armas se encontrava direccionado ao fim da pista de aterragem.
Deduzimos que estes primeiros disparos destruiram o posto de rádio avançado, impossibilitando que, a partir de aí fossem dadas coordenadas para direccionarem os mísseis.
Golpe de sorte ou experiência? Talvez as duas coisas...não menosprezando a experiência do nosso 1º Sargento Rodrigues, autor dos primeros disparos, e do nosso Capitão Baptista, que tendo estado neste mesmo local a estagiar como Alferes Miliano na Compamhia que viemos render, conhecia bem o "modus operandum" dos guerrilheiros do M.P.L.A., que igualmente haviam infringido um ataque ao quartel da Lumbala naquele tempo...
Como já referi em relato anterior, na altura destes acontecimentos encontrava-me em gozo de férias em Portugal, por isso qualquer erro ou omissão agradeço seja rectificado por algum companheiro com a memória mais viva.
(na foto acima podemos ver, de pé: Guilherme(condutor), o Malekas (civil ajudante de enfermeiro)e Adão (2ºPelotão). Em baixo: Pires(4ºPel.); João (ajudante padeiro), Isidoro (Furriel 1ºPel.) e Aniceto (Enfermeiro 1º Pel.).

quarta-feira, 1 de julho de 2009

M.P.L.A. na Lumbala Nova (Agosto de 1974)...




Após o primeiro encontro verificado a 6 de Agosto de 1974, um novo se seguiu, e dessa vez esteveram presentes elementos do Quartel General do M.P.L.A na região Leste com bases na Zâmbia, a partir das quais faziam as infiltrações em território Angolano. Esta nova delegação era chefiada pelo Major Orlog, o qual, segundo nos informaram mais tarde, chegou a ser Ministro da Marinha em um dos Governos após a Independência de Angola.
Nesta segunda visita houve oportunidade para estabelecer algum relacionamento com elementos daquele movimento e após o diálogo chegou-se mesmo a fazer trocas de algumas peças de fardamento e até de facas de mato.
No meu caso particular despertou-me a atenção os livros que estes traziam nas suas mochilas e que na altura eram proibidos em Portugal ou mesmo desconhecidos…

Como exemplo o Livro Vermelho de Mao Tsé-tung – CITAÇÕES DO PRESIDENTE MAO TSE TUNG, assim está escrito na sua capa vermelha. Trata-se da 1ª edição em Língua Portuguesa editado em Pequim em 1967. Este foi-me dado (ou trocado por algo que não recordo) por um camarada do M.P.L.A., e na sua primeira folha tem escrito a tinta azul: 26/10/1971 – Tanzânia Iringa Mgagão Este livro pertence ao camarada Ernesto Donji.

Mas outros vieram ter às minhas mãos, como é o caso de um livro de discursos de Amílcar Cabral, que ofereci a um amigo após o meu regresso a Portugal.
Entretanto ainda mantenho em meu poder mais os seguintes:
AGOSTINHO NETO – PRESIDENTE DO MPLA – A MESSAGE TO COMPANIONS IN THE STRUGGLE. É a transcrição de um discurso feito por Agostinho Neto em 6 de Junho de 1968 através do programa A Voz de Angola em Combate na Rádio Tanzânia. Desconheço o interesse dos guerrilheiros em trazerem este livro, já que está todo escrito em Inglês…Só se fosse para ver as fotos, onde aparece Agostinho Neto e o seu comité central: Comandantes Junginda, Toka e Monimambu. Numa outra foto aparece Deloloa (C.I.R.) com o Presidente Neto. Esta edição foi impressa pelo Liberation Support Movement (delegações de Oakland-Califórnia e Canadá).

Ainda de MAO TSE TUNG – Intervenções nos Colóquios de Ien-An sobre Literatura e Arte (Maio 1942). Este igualmente publicado em Língua Portuguesa – Pequim 1969.
Ainda estou para saber qual o interesse dos guerrilheiros, gente do povo e com pouca cultura, nestas intervenções de Mao Tse Tung sobre tais temas! Por curiosidade transcrevo a dedicatória que o camarada do MPLA me fez no dito livro: Oferece ao meu camarada Briedea o camarada do MPLA Tchapaula Terceira Guerra Mundial F.N.L.

De Vladimir Ilitch LENIN – O ESTADO E A REVOLUÇÂO (texto abreviado) – Edição dos Serviços Culturais do Comité Central do P.A.I.G.C. – 1971
Por curiosidade as mãos pelo qual este livro passou e que prova que o dito era mais do que um livro de doutrina marxista era uma cartilha para praticar a leitura da língua Portuguesa… Assim, escrito a verde logo na primeira página: Este livro pertence ao c/da Russel Portela ou Manuel Eranda Juventude – Angola Kallombo. Na folha seguinte uma outra referência de propriedade: 09/5/74 Este livro pertence ao camarada Chapaev Yank


Depois destes encontros do MPLA com o Exército Português na Lumbala Nova, de que todos nós fomos testemunhas, seguiu-se o encontro na picada do Lucusse, ai sim já com a presença de altas patentes de ambos os lados e depois todas as negociações que levaram à Independência de Angola e à total retirada das nossas Forças Militares.
Por esta razão a LUMBALA NOVA e a 1ª C.CAÇ do B.CAÇ 4212/73 escreveu uma página importante no fim das hostilidades e no advento da Republica Popular de Angola.