sábado, 11 de abril de 2020

Sábado de Aleluia!

Pensamentos... na quarentena 31.dia... Sábado de Aleluia! A rapaziada corria à Igreja para assistir à celebração do meio-dia... E à exclamação do orador : “ Jesus Cristo Ressuscitou! Aleluia! Aleluia!” Soltavam-se pombas brancas e a rapaziada tocava as sinetas e campainhas!
Eram outros tempos em que Águeda era um pequeno burgo debruçado em varandas sobre o rio... de gente simples e de uma pequena burguesia de comerciantes e alguma aristocracia que chegou a ter poder no “parlamento”, ficando célebre a frase: “Águeda é o País!”...
In Retalhosdeaguedaantiga.blogspot.com By Joao Carlos Breda

sexta-feira, 10 de abril de 2020

Guerras e guerras...

Houveram outras guerras... e houve uma para onde fomos obrigados a ir... tentam ignorá-la colocando todos esses combatentes no esquecimento... mas para quem por lá passou nunca será esquecida.
Estivemos lá, em Angola, no leste... no Saliente Cazombo, naquele quadrado com fronteiras rectilíneas, que entra pelo Zaire e faz fronteira com a Zâmbia. E foi mesmo aí que estivemos, na fronteira com a Zâmbia, na Lumbala Nova na margem esquerda do Rio Zambeze... A nossa companhia era a Primeira do Batalhão de Caçadores 4212/73, formado em Abrantes de Abril a Junho de 1973. Voamos para Angola em Julho desse ano e antes de irmos para as terras do leste passamos pela Funda na região de Catete para adaptação aos mosquitos! Tempos difíceis... Fomos transportados de Luanda (Grafanil) até Huambo (Nova Lisboa) em viaturas civis, nas carroçarias das camionetas da fruta que abasteciam a capital... depois fomos no Mala, comboio dos CFB - Caminhos de Ferro de Benguela até Teixeira de Sousa (Luau), o fim da linha na fronteira com o Zaire (antigo Congo Belga), e daí rumo a sul ao Cazombo, onde ficou estacionada a CCS do Batalhão... depois já noite seguimos mais para sul na peugada do rio Zambeze e passado o Chilombo, onde os Fuzileiros estavam ancorados, fomos encontrar o nosso refúgio de mais de um ano - a Lumbala! Tivemos uma recepção dantesca, tudo ardia à nossa volta que mais parecia uma cena de Apocalipse Now! Não foi mais do que a alegria extravasada por quem acabava a sua estada e recebia os “piriquitos” que os iam render!
As outras duas companhias do Batalhão ficaram também no saliente, a segunda na Calunda e a Terceira no Cavungo, onde a Rainha dos Luenas, Nana Candundo, tinha sua residência e cabeças de gado...
O saliente era, como dizia o mapa que encontramos pintado na messe de sargentos, “un champ minée”... Zona de passagem das tropas do MPLA da sua base situada na Zâmbia (região de Chavuma) a pouca distância da fronteira (Caripande) onde a companhia da Lumbala em anos anteriores teve um destacamento, que foi abandonado face aos constantes ataques do outro lado da fronteira, aos quais não se podia replicar por invadir território zambiano.
Muitas patrulhas, operações, colunas... muito sangue, suor e lágrimas derramadas por aquelas inóspitas matas e picadas... muitas histórias para contar quando as gargantas deixarem de gritar a revolta da incompreensão e do esquecimento...
Nesses tempos de antagonismos aconteceu Abril e disseram-nos que a guerra tinha acabado... na verdade não era bem assim, alguns grupos armados quiseram mostrar força e fizeram-nos sofrer... O MPLA tinha outros planos e sabia bem o queria para Angola... da sua base na fronteira com a Zâmbia escolheu a nossa companhia na Lumbala para estabelecer os primeiros encontros amigáveis... Corria o mês de Agosto quando na porta de armas surgiu um trabalhador da serração de madeiras com um bilhete para o nosso Capitão... O Capitão Baptista estava a preparar-se para partir de férias nesse dia e em face do bilhete adiou a partida... O bilhete era um convite para se deslocar ao fundo da pista de aviação (o Nord Atlas visitava-nos em semanas alternadas) e ter uma conversa amigável com o comandante de esquadrão do MPLA, Camarada Ser Fiel. Assim foi e o nosso Capitão convidou-o a vir ao nosso quartel... o povo da sanzala rodeou-nos... queria saber que futuro aí viria?... O esquadrão pernoitou essa noite no nosso aquartelamento... nós não pregamos olho! As notícias recentes de Moçambique, deixavam-nos apreensivos... mas tudo correu bem! Estavam a escrever-se páginas da história de Angola...6 de Agosto de 1974... Novo encontro amigável se concretizou algum tempo depois, mas desta vez com a presença de diversos Comissários Políticos sob a chefia do Comandante Orlog, comandante da Frente Leste do MPLA (mais tarde foi Ministro da Marinha). Após estes primeiros passos de relações amigáveis seguiu-se a assinatura do acordo de cessar-fogo entre a direcção do MPLA e representantes do governo e exército portugueses, a 21 Outubro de 1974, no Lunyameje, pondo fim à guerra de quase 14 anos.