sexta-feira, 17 de julho de 2009

Cerimónia de homenagem aos militares falecidos ao serviço de Portugal



excerto do www.marinha.pt/extra/revista/ra_mar2000/pag...


Ocorreu no passado dia 5 de Fevereiro(2000)a cerimónia de inauguração das placas com os nomes dos militares mortos em combate no Ultramar, junto ao Monumento dos Combatentes, em Belém.

Na cerimónia, presidida pelo Presidente da República, Dr. Jorge Sampaio, estiveram presentes o Ministro da Defesa Nacional, o Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, os Chefes dos Estados-Maiores da Armada, Exército e Força Aérea, entre várias autoridades civis, militares e religiosas.

O programa da cerimónia iniciou-se com a celebração de uma missa de sufrágio em memória dos combatentes falecidos na Igreja da Memória, seguindo-se a concentração junto do Monumento dos Combatentes do Ultramar.

O Presidente da Liga dos Combatentes, General Morais Barroco, ao usar da palavra agradeceu a todos os presentes, salientando a acção do Professor Doutor Veiga Simão, a tempo Ministro da Defesa Nacional, que possibilitou a concretização do memorial concedendo as verbas necessárias para o efeito. Em seguida fez um resumo descritivo da história do monumento cuja construção foi iniciada em 1987, com a constituição de uma Comissão Executiva constituída pela Liga dos Combatentes, Sociedade de Geografia de Lisboa, Sociedade Histórica da Independência de Portugal, Associação de Comandos, Associação dos Combatentes do Ultramar, Associação da Força Aérea Portuguesa, Associação dos Especialistas da Força Aérea Portuguesa e Associação dos Deficientes das Forças Armadas. A Comissão deu por concluídos os seus trabalhos em 15-01-1994 com a inauguração da primeira fase do Monumento, presidida pelo então Presidente da República.

Aquela primeira fase da construção, correspondeu à edificação de um simples pórtico de grandes dimensões, que procurava traduzir o seguinte:

grande pureza formal e simbólica;

grande simplicidade e carácter unitário;

a união entre todos os povos envolvidos na guerra do ex-Ultramar português, sem constrangimentos nem ressentimentos.

Afirmou ainda que, após a conclusão da segunda fase, passamos a desfrutar de um Monumento vivo, que agora é procurado por todos aqueles que passaram pelo ex-Ultramar português como combatentes, pelos seus familiares, pelos familiares dos que tombaram nesses territórios e por todos aqueles que se interessam pela História de Portugal.

A concluir afirmou:

"Quer queiramos quer não, os soldados portugueses deram um forte contributo para que a língua portuguesa seja falada em todos os continentes e agora, que estamos em paz, será bom que outros soldados continuem esse trabalho para que, dessa forma, possamos continuar a manter a grandeza de Portugal.

Termino, fazendo votos de que Portugal continue a ser um País livre e independente, um País digno e defensor da sua história e que os portugueses, não tenham vergonha do seu passado, dos seus antecessores, em especial daqueles que tombaram por Portugal.

A Vossa Exª., Senhor Presidente da República, e a todos que se dignaram estar presentes nesta simples, mas significativa cerimónia, o agradecimento de todos os Combatentes".

O Presidente da República na cerimónia de homenagem dos militares falecidos ao serviço de Portugal, proferiu um discurso que passamos a citar:

Agradeço, reconhecido, aos promotores desta iniciativa o gesto de deferência que tiveram para comigo ao adiar esta cerimónia, permitindo-me, assim, estar aqui hoje convosco.

O Estado democrático, ao assentar os alicerces do novo regime, saído do 25 de Abril, na Declaração Universal dos Direitos do Homem, permitiu ao Estado democrático resolver as suas causas políticas da Guerra. Mas até hoje, estava por prestar a homenagem devida aqueles que morreram lutando sob o Estandarte de Portugal. Era tempo de o fazer.

Sinto, ao curvar-me em respeito perante a memória destes homens, a mesma comoção que sempre sinto quando, em visita a unidades militares, o clarim soa o toque de silêncio e de homenagem àqueles que ao longo de décadas e séculos tombaram ao serviço do seu país.

Seja-me permitido presumir que talvez eu, pelas funções que desempenho como Presidente da República e por todo o meu passado político, possa deixar hoje, a todos os portugueses, uma mensagem e um apelo.

A nossa responsabilidade maior, aquela pela qual seremos invariavelmente julgados, é para com o futuro de Portugal, garantindo a sua perenidade. É para isso importante, entre tantas outras coisas, naturalmente, que os portugueses aprendam e sintam orgulho em amar e a servir o seu País.

Para o amar têm que o conhecer. Conhecer o território em que vivem e a História que nos permitiu chegar aqui. Uma História com oito séculos. Sobre ela, sobre cada um dos seus momentos mais relevantes, existem sempre, diversas interpretações, por vezes polémicas. Ainda bem, a diversidade de leituras interpretativas é importante.

A grande virtude dos regimes democráticos, em relação às ditaduras, é que a democracia não impõe uma leitura excluindo todos aqueles que não se reconhecem numa interpretação oficial. A vitalidade histórica de um povo reside na sua capacidade de compreender essa diversidade e, ao debatê-la, não fazer dela um território de desencontros e de rupturas com a própria história.

Compreendo que a jovem democracia portuguesa tenha tardado em realizar esta cerimónia, Mas ainda bem que assim foi. Feita muito mais cedo, ela não teria encontrado condições para se transformar num gesto verdadeiramente nacional, porque se teria deparado, inexoravelmente, com um contraditório de sentimentos sobre a Guerra em África que só o tempo permite colocar no seu devido contexto. Estaríamos então a debater se esta era uma homenagem às causas da guerra, dividindo-nos nisso, e não, como é nossa obrigação a prestar uma homenagem aos portugueses que serviram o seu País.

Só é possível estimular os portugueses a saber servir Portugal, se todos soubermos, devidamente homenagear aqueles que o serviram e por ele morreram. Apelo, por isso, aos portugueses para que saibam sempre servir e amar o seu país e aos poderes públicos para que saibam sempre elevar-se acima das polémicas e homenagear devidamente aqueles que o serviram.

Longe dos juízos da história, ao percorrer o silêncio irreversível daqueles nomes e o drama, irreparável, de quem perdeu a vida, evoco o sentimento e a angústia de quem perdeu os seus familiares. Não há palavras de conforto que minore esse sofrimento. Que este monumento e estas lápides fiquem, por isso, como um testemunho perene desse sacrifício feito sob a Bandeira Nacional.

Seguiu-se o descerramento das lápides que perpetuam os nomes dos militares falecidos ao serviço de Portugal.

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