quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

FELIZ ANO NOVO! VIVA 2010!



Quero brindar ao Ano Novo...
E com ele saudar a todos quantos me tem visitado.
Em especial, aqueles que um dia arrancados da mocidade rumaram a paragens longínquas porque a Pátria assim ordenava e que durante décadas foram marginalizados...

Paz, Saúde e Amor...
Alegria e Solidariedade...
Justiça e Fraternidade...
Trabalho, Dinheiro... Felicidade...

Votos sinceros
Joao Carlos Breda

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

NATAL...em Luena...


Recordando...
Escrito num guardanapo, encontrei a seguinte canção de Natal em Luena:

É Natal
É Natal
Fucu à Natal
Tunguelô vossemá
Nanahililá

Jessu Nassemuca
Mieje jiáivulo
Tunguelô vossemá
Nanahililá

domingo, 20 de dezembro de 2009

Angola... a palanca




Em destaque esta imagem de uma Palanca Negra... visualizar um espécimen destes é cada vez mais difícil!


PALANCA NEGRA

Classificação

Classe: Mammalia
Ordem: Artiodactyla
Família: Bovidae
Habitat

A Palanca vive na savana Africana, desde o Sudeste do Quénia, Este da Tânzania e Moçambique, até Angola e Sul do Zaire. Este animal é característico principalmente da savana tipo "miombo", onde se mistura floresta com capim de enorme variedade.
Caracterização


A Palanca é um dos animais emblemáticos de África, Existe dimorfismo sexual entre os sexos. Os machos são negros e com cornos maiores e mais curvados (80-165 cm) e as fêmeas acastanhadas e com cornos menos desenvolvidos (60-100 cm). As diferenças entre as sub-espécies estão no desenho da máscara facial e nos cornos.

A fêmea tem um período de gestação de 9 meses, com um nascimento por parto, podendo viver até aos 15-20 anos. São animais gregários e podem ser encontrados em manadas de 100 indivíduos.
Curiosidades


A palanca negra gigante (Hippotragus níger variani), foi redescoberta em 2005, sem que durante 20 anos tivesse havido qualquer prova da sua existência.

A palavra Hippotragus deriva da aglutinação dos termos gregos latinizadas "hippo" (que significa cavalo) e tragus (que significa bode ou antílope). Não obstante nada ter a ver com qualquer perissodáctilo (familia dos cavalos), este antílope possui uma cauda longa e cheia, uma crimeira erecta, orelhas longas e ponteagudas, e um pescoço largo e quase vertical, que recordam, efectivamente, o perfil de um equídeo.



Os cornos de palanca-negra eram utilizados como ornamento decorativo. Extraordinariamente longos e robustos, chegam a atingir mais de um metro e meio de comprimento, formando, cada um, uma semi-circunferência pela sua curvatura. Partes desta palanca angolana são trazidas para a Europa desde a primeira década de 1900, tão magnífico é este ruminante.

As já referidas populações de Hippotragus niger agrupam-se em quatro subespécies hoje reconhecidas: a palanca-negra de Kirk ou palanca-negra da Zâmbia (H. n. kirkii), a palanca-negra-comum ou palanca-negra do Sul(H. n. niger), a palanca-negra de Roosevelt ou palanca-negra de Leste(H. n. roosevelti) e a nossa palanca-negra-gigante ou palanca-negra de Angola (H. n. variani).

Em todas as subespécies, o macho adulto é preto (de ventre branco), donde o epíteto específico “niger” (= “negro”, em latim). É apenas na subespécie típica (Hippotragus niger niger) que as fêmeas também atingem a cor negra na maturidade, mantendo, nas restantes subespécies, a cor avermelhada da fase juvenil.
Por outro lado, é comum a todas as subespécies o regime alimentar baseado em ervas e rebentos de lenhosas, e a organização social, sendo que as fêmeas formam manadas de liderança matriarcal, onde também se incluem os machos subadultos, e os machos adultos dominam territórios com cerca de 4 a 9 ha, ou constituem grupos de machos “solteiros”.


Como seria de esperar, o soberbo hipotragíneo que é a palanca-real acabou por ser alvo de chacina por parte do Homem, mais que não fosse para troféu coroado de chifres anelados e inigualavelmente gigantes e magestosos (donde os nomes vulgares portugueses “palanca-real” e “palanca-gigante”). Não há assim tanto tempo que os colonos portugueses da região se gabavam de matar pelo menos 200 destes antílopes-negros por semana, para alimentarem os seus trabalhadores. Como consequência, actualmente não sobrevivem mais de 1000 exemplares de Hippotragus niger ssp. variani, distribuídos pela “Luando Reserve” e pelo “Kangandala National Park”, em Angola, país do qual este famoso mamífero se tornou símbolo nacional.
www.badoca.com/animais/safari/palanca-negra.php



Nota do autor: Como acima referido a Palanca Negra é o símbolo nacional de Angola, daí da sua equipa nacional de futebol ser chamada de "os Palancas Negras"...

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

CAZOMBO 1974...


(Na foto a Igreja do Cazombo, imagem que todos recordam, pois era a construção mais significativa da localidade...)


Como já referimos neste espaço, no Cazombo (Alto Zambeze) estava sediado o nosso Batalhão 4212/73 com a sua CCS...
Hoje tivemos a grata recepção de um e-mail do David Justino, pelo que não hesitamos em aqui o publicar. Ei-lo:
"
Lembro-me de ti creio que eras Furriel. não me lembro onde estava a 1ª companhia, ou melhor onde é a LUMBALA, mas vou rever ideias, mas creio que era onde estavam meus colegas do CICA o Rodrigues Gasolinas e Castro tambem Cabo condutor, Creio tambem que estivestes no nosso 1ª almoço da CCS + Canhões + +++ na Guia, Figueira da Foz, Leitões. E ainda este ano alguem falou no teu nome ,talvez o Corona........... Um abraço _ tenho alguns contactos brevemente enviarei.
Vejo, aqui um ex comandante de companhia um Capitão que não sei quem é. diz-me o nome do vosso.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

C.CAÇ 2461...Calunda 1969


COMO JÁ REFERIMOS EM ANTERIOR ARTIGO PUBLICADO NESTE BLOGUE O NOSSO BATALHÃO TEVE NA CALUNDA A 2ª COMPANHIA...
CINCO ANOS ANTES POR LÁ PASSOU UMA OUTRA COMPANHIA DO B.CAÇ 2461, TAMBÉM SEDIADO NO CAZOMBO...
DIAS ATRÁS RECEBI DO COMPANHEIRO MARCOS CASQUILHA UM E-MAIL COM O SEGUINTE CONTEÚDO, QUE COM A DEVIDA VÉNIA ME PERMITO PUBLICAR...

Breda:
Cumprimentos companheiro
A minha companhia C.Caç.2461, estava sediada na Calunda.
Passei uma vez pela Lumbala, quando regressava de férias de Luanda, tendo apanhado uma boleia num táxi aéreo que ia levar uns gajos da pide para calunda e deixaram tb 1 ou 2 na lumbala
Na zona onde eu estava, (calunda), falavam “lunda”, mas era muito parecido com “luena”, tinham muitas palavras comuns…
Claro que quando fomos para lá, em JAN69, fizemos o mesmo percurso que vocês, só que tivemos mais sorte, seguimos nas carreiras da EVA até nova Lisboa, no dia seguinte até gen.machado, depois Luso e Teixeira de Sousa, onde pernoitámos….
Seguimos depois até cavungo, (outra noite), cazombo, mais uma noite e depois enfim, calunda…
No fim deste ano (69), mudámos para novo redondo onde estivemos de férias até Maio, seguindo para mutumbo, 120km a sul de silva porto e finalmente quibala…até Fevereiro de 71.Passei à disponibilidade lá e fiquei até 75, quando levei com pontapé de saída como toda a gente…
Trabalhava exactamente na Lello, no dep.olivetti, primeiro em nova Lisboa, depois Luanda e já depois da “abrilada”, voltei para nova Lisboa a chefiar este departamento,..
Enfim bons tempos…
Um abraço
marcos

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Angola...o IMBONDEIRO ou EMBONDEIRO...


Baobá
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Classificação científica
Reino: Plantae

Divisão: Magnoliophyta

Classe: Magnoliopsida

Ordem: Malvales

Família: Malvaceae

Género: Adansonia


Espécies
Ver texto

Os baobás, embondeiros, imbondeiros ou calabaceiras (Adansonia) são um gênero de árvore com oito espécies, nativas da ilha de Madagascar (o maior centro de diversidade, com seis espécies), do continente africano e da Austrália (com uma espécie em cada).

As espécies alcançam alturas entre de 5 a 25 m (excepcionalmente 30 m), e até 7 m no diâmetro do tronco (excepcionalmente 11 m). Destacam-se pela capacidade de armazenamento de água dentro do tronco, que pode alcançar até 120.000 litros.

Os baobás desenvolvem-se em zonas sazonalmente áridas, e são árvores de folha caduca, caindo suas folhas durante a estação seca. Alguns têm a fama de terem vários milhares de anos, mas como a sua madeira não produz anéis de crescimento, isso é impossível de ser verificado: poucos botânicos dão crédito a essas reivindicações de idade extrema.

O baobá é a árvore nacional de Madagascar e o emblema nacional do Senegal.

O nome Adansonia foi dado por Bernard de Jussieu em homenagem a Michel Adanson (1727-1806), botânico e explorador francês, quem primeiro descreveu o baobá no Senegal.

AS FOTOS AQUI APRESENTADAS FORAM RECENTEMENTE TIRADAS NO SUL DE ANGOLA, NO NAMIBE, E GENTILMENTE CEDIDAS PELO AMIGO "BECAS"...

História
Em 1445, navegantes portugueses conduzidos por Gomes Pires chegaram à ilha de Gorée, no Senegal; eles descobriram o brasão do Infante D. Henrique gravado em árvores. O cronista Gomes Eanes de Zurara assim descreveu a árvore: Árvores muito grandes e de aparência estranha; entre elas, algumas tinham desenvolvido um cinturão de 108 palmos a seu pé (ao redor 25 metros). O tronco de um baobá não mais alto do que o tronco de uma árvore de noz; rende uma fibra forte usada para cordas e pano; queima da mesma maneira como linho. Tem um grande fruta lenhosa como abóbora cujas sementes são do tamanho de avelãs; pessoas locais comem a fruta quando verde, secam as sementes e armazenam uma grande quantidade delas.

Em Angola e Moçambique, esta árvore é conhecida por embondeiro, ou imbondeiro. Em certas regiões de Moçambique, o tronco desta árvore é escavado por carpinteiros especializados para servir como cisterna comunitária.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Angola...aquele Pôr-do-Sol...inolvidável...


Angola...a primeira imagem ao aterrar em Luanda...aquela terra vermelha!...
Também no leste essa paisagem é patente...
E...,como que, a condizer com a cor da terra, a cor do Pôr-do-Sol...Imagens memoráveis daqueles fins de tarde...

Ícones de Angola: a par da Palanca, o Imbondeiro ou a Welvitia Mirablis do deserto de Moçamedes( Namibe)... Hoje elegemos o imbondeiro!

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

...ABRANTES

Cabo Miliciano Breda desempenhando as funções de Sargento de Dia...Abril de 1973

O brazão do Batalhão de Caçadores 4212/73, foi desenhado por este Cabo Miliciano. Nele constam em campos opostos na diagonal os símbolos: de Angola - o Elefante - e do R.I.-2 de Abrantes - a Cruz de Avis (D.Nuno Alvares Pereira é o patrono da Infantaria). A divisa Excelente e Valoroso pertence igualmente à Unidade de Abrantes onde o Batalhão foi formado. A cor vermelha advém igualmente do Brazão do R.I.-2 de Abrantes.
A cor verde identifica a 1ª Companhia, assim como a branca a Formação, a azul a 2ª e a amarela a 3ªCompanhia.
Os Guiões das três companhias e Formação seguem as mesmas cores dos Brazões.

O Furriel Miliciano Breda, já em Angola, executou uma reprodução em cimento do brazão do Batalhão, a fim de figurar junto com os dos outros Batalhões e Companhias, que por ali passaram, na Praça de Armas do Quartel do Cazombo (sede do Batalhão).
Uma réplica foi executada para colocar no Quartel da Lumbala, mas acabou por ficar guardado na arredação, dado que, entretanto, a nossa companhia rodou para Teixeira de Sousa.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

EL COMANDANTE...


(foto: restaurante Havanna em Xiamen, China)

Há 35 anos o argentino "Che" estava connosco na Lumbala...
Era um dos nossos ícones...



O 25 de Abril trouxe-nos destas coisas... Um exército "colonial" com ícones como Che Guevara...
Mas quem foi Che Guevara?
Um pouco de história...

Ernesto Guevara de la Serna, mais conhecido por Che Guevara ou El Che (Rosário, 14 de junho de 1928 — La Higuera, 9 de outubro de 1967) foi um dos mais famosos revolucionários comunistas da história. Foi considerado pela revista norte-americana Time Magazine uma das cem personalidades mais importantes do século XX.
A sua história é tão longa e rica que convido-vos a visitar...
http://pt.wikipedia.org/wiki/Che_Guevara

quarta-feira, 22 de julho de 2009

O Rio Zambeze...



Rio Zambeze, tem 2755 kms de comprimento, nasce na Zâmbia, passa por Angola, estabelece fronteira entre Zâmbia e Zimbabwe, atravessa Moçambique e desagua no oceano Indico, a sul da cidade de Chinde. Ao longo do rio existem 2 conhecidas barragens, Kariba e Cahora Bassa. O ponto mais espectacular do rio são as Cataratas Vitória.

No século XIX, este rio foi alvo das expedições dos portugueses Serpa Pinto e Hermenegildo Capelo.




O nosso aquartelamento na Lumbala a Nova, hoje chamada Lumbala Kaquemgue, ficava situado na sua margem esquerda, perto da afluência do rio Lumbala, e era dele que nos abastecíamos de água e, em algumas folgas, não deixavamos de lá ir dar uns mergulhos... Mas antes, tínhamos de nos acautelar com a possível presença de jacarés!...

(clique no mapa para o aumentar)


Na outra margem existia a Lumbala Velha, onde uma companhia independente tinha o seu aquartelamento. Para fazer a travessia de pessoas, viaturas e víveres, havia uma balsa, julgamos que construída pela JAEA, pois a partir da Lumbala Velha construíram uma picada com ligação ao Lucusse.

domingo, 19 de julho de 2009

TEIXEIRA DE SOUSA...hoje LUAU...


Isidoro, Luís Lima, João Breda e Manuel Lorena (Teixeira de Sousa-Angola).

Mês sim, mês não, a nossa companhia estava escalada para fazer a escolta ao MVL, ou seja às viaturas civis que de Teixeira de Sousa, pela picada do Saliente Cazombo, vinham em coluna, a fim de abastecer de víveres as populações civis, mas também os diversos aquartelamentos e destacamentos militares instalados naquela área. O fim da linha era a Lumbala a Nova, onde cada MVL se iniciava e terminava.


A "Berliet" da cabeça da coluna...


Partíamos manhã cedo, dando início à 1ª etapa até ao Cazombo. Na frente da coluna duas "Berliet", sendo a primeira considerada como a "rebenta minas", para o que levava no solo da cabine diversos sacos de areia. Em cada uma delas seguia uma secção - 5 homens. Felizmente, connosco, nunca efeito de rebentar minas foi sentido. Seguiam-se as viaturas civis e na retaguarda dois "Unimog", também com uma secção cada um.
Pelo caminho iam-se integrando as viaturas civis, que entretanto tinham abastecido os seus clientes e, agora, regressavam a Teixeira de Sousa, para daí a 4 ou 5 dias regressarem na nova coluna (MVL) com novas mercadorias.
Pernoitávamos na sede do Batalhão (Cazombo) e iniciávamos, na madrugada do dia seguinte, a 2ª etapa. Normalmente fazíamos uma pequena paragem no Cavungo (Nana Kandundo) onde se encontrava a 3ª companhia do nosso Batalhão.
Antes de chegarmos a Teixeira de Sousa, ainda fazíamos paragens técnicas (reorganização da coluna) no destacamento do Massivi e depois no Marco 25, este já sob jurisdição do Batalhão afecto a Teixeira de Sousa.


...um dos Unimog da retaguarda...vendo-se ao longe uma viatura civil...


As picadas eram de um piso horrível, salvo raras excepções de troços recentemente reparados pela JAEA... Por isso as viagens eram sempre muito atribuladas, tanto mais que, por vezes, numa noite de intempérie podiam-se abrir longas e profundas valas nas ditas ou mesmo derrubar enormes árvores que nos obstruíam a passagem...

E se na época das chuvas tinhamos de levar o poncho(impermeável)vestido, para nos livrar de grandes molhas, o que nos tolhía os movimentos e por isso, nos dificultava, em caso de necessidade, uma rápida reacção , já com a época de calor as nuvens de pó levantado nas picadas era de tal forma, que por vezes deixavamos de ver as outras viaturas, quer civis ou militares, perdendo por completo a ligação... Para minimizar as inerentes dificuldades usávamos óculos "tipo motociclista" e lenços a servir de máscara, mas isso de pouco valia, pois o pó era tão fino que se infiltrava por tudo quanto era buraco!


...preparativos para saída em escolta ao MVL...





Chegados a Teixeira de Sousa, e depois de um banho reconfortante, vestíamos a nossa farda nº 2 ou a roupa à civil e íamos até ao centro da Vila... Alí, corríamos ao SEPOL, em cujo restaurante nos deliciavamos a comer um bom bife com ovo a cavalo ou uma alheira com todos os matadores...Depois à noite, caso fosse fim de semana, podíamos ir ao cinema e caso fosse verão ir ao clube assistir às verbenas locais...


Enfim, uns dias de "civilização" para quem durante dias e dias só via mato!
Na foto acima, tirada na fronteira do Luau(Angola-Zaíre ex-Congo Belga), para além do agente da Polícia Portuguesa, em baixo: Raposo e Cunha , no meio: Luís Lima e atrás: Galinha, Lininho(3ª Comp.) e Pedro Manzoni...

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Cerimónia de homenagem aos militares falecidos ao serviço de Portugal



excerto do www.marinha.pt/extra/revista/ra_mar2000/pag...


Ocorreu no passado dia 5 de Fevereiro(2000)a cerimónia de inauguração das placas com os nomes dos militares mortos em combate no Ultramar, junto ao Monumento dos Combatentes, em Belém.

Na cerimónia, presidida pelo Presidente da República, Dr. Jorge Sampaio, estiveram presentes o Ministro da Defesa Nacional, o Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, os Chefes dos Estados-Maiores da Armada, Exército e Força Aérea, entre várias autoridades civis, militares e religiosas.

O programa da cerimónia iniciou-se com a celebração de uma missa de sufrágio em memória dos combatentes falecidos na Igreja da Memória, seguindo-se a concentração junto do Monumento dos Combatentes do Ultramar.

O Presidente da Liga dos Combatentes, General Morais Barroco, ao usar da palavra agradeceu a todos os presentes, salientando a acção do Professor Doutor Veiga Simão, a tempo Ministro da Defesa Nacional, que possibilitou a concretização do memorial concedendo as verbas necessárias para o efeito. Em seguida fez um resumo descritivo da história do monumento cuja construção foi iniciada em 1987, com a constituição de uma Comissão Executiva constituída pela Liga dos Combatentes, Sociedade de Geografia de Lisboa, Sociedade Histórica da Independência de Portugal, Associação de Comandos, Associação dos Combatentes do Ultramar, Associação da Força Aérea Portuguesa, Associação dos Especialistas da Força Aérea Portuguesa e Associação dos Deficientes das Forças Armadas. A Comissão deu por concluídos os seus trabalhos em 15-01-1994 com a inauguração da primeira fase do Monumento, presidida pelo então Presidente da República.

Aquela primeira fase da construção, correspondeu à edificação de um simples pórtico de grandes dimensões, que procurava traduzir o seguinte:

grande pureza formal e simbólica;

grande simplicidade e carácter unitário;

a união entre todos os povos envolvidos na guerra do ex-Ultramar português, sem constrangimentos nem ressentimentos.

Afirmou ainda que, após a conclusão da segunda fase, passamos a desfrutar de um Monumento vivo, que agora é procurado por todos aqueles que passaram pelo ex-Ultramar português como combatentes, pelos seus familiares, pelos familiares dos que tombaram nesses territórios e por todos aqueles que se interessam pela História de Portugal.

A concluir afirmou:

"Quer queiramos quer não, os soldados portugueses deram um forte contributo para que a língua portuguesa seja falada em todos os continentes e agora, que estamos em paz, será bom que outros soldados continuem esse trabalho para que, dessa forma, possamos continuar a manter a grandeza de Portugal.

Termino, fazendo votos de que Portugal continue a ser um País livre e independente, um País digno e defensor da sua história e que os portugueses, não tenham vergonha do seu passado, dos seus antecessores, em especial daqueles que tombaram por Portugal.

A Vossa Exª., Senhor Presidente da República, e a todos que se dignaram estar presentes nesta simples, mas significativa cerimónia, o agradecimento de todos os Combatentes".

O Presidente da República na cerimónia de homenagem dos militares falecidos ao serviço de Portugal, proferiu um discurso que passamos a citar:

Agradeço, reconhecido, aos promotores desta iniciativa o gesto de deferência que tiveram para comigo ao adiar esta cerimónia, permitindo-me, assim, estar aqui hoje convosco.

O Estado democrático, ao assentar os alicerces do novo regime, saído do 25 de Abril, na Declaração Universal dos Direitos do Homem, permitiu ao Estado democrático resolver as suas causas políticas da Guerra. Mas até hoje, estava por prestar a homenagem devida aqueles que morreram lutando sob o Estandarte de Portugal. Era tempo de o fazer.

Sinto, ao curvar-me em respeito perante a memória destes homens, a mesma comoção que sempre sinto quando, em visita a unidades militares, o clarim soa o toque de silêncio e de homenagem àqueles que ao longo de décadas e séculos tombaram ao serviço do seu país.

Seja-me permitido presumir que talvez eu, pelas funções que desempenho como Presidente da República e por todo o meu passado político, possa deixar hoje, a todos os portugueses, uma mensagem e um apelo.

A nossa responsabilidade maior, aquela pela qual seremos invariavelmente julgados, é para com o futuro de Portugal, garantindo a sua perenidade. É para isso importante, entre tantas outras coisas, naturalmente, que os portugueses aprendam e sintam orgulho em amar e a servir o seu País.

Para o amar têm que o conhecer. Conhecer o território em que vivem e a História que nos permitiu chegar aqui. Uma História com oito séculos. Sobre ela, sobre cada um dos seus momentos mais relevantes, existem sempre, diversas interpretações, por vezes polémicas. Ainda bem, a diversidade de leituras interpretativas é importante.

A grande virtude dos regimes democráticos, em relação às ditaduras, é que a democracia não impõe uma leitura excluindo todos aqueles que não se reconhecem numa interpretação oficial. A vitalidade histórica de um povo reside na sua capacidade de compreender essa diversidade e, ao debatê-la, não fazer dela um território de desencontros e de rupturas com a própria história.

Compreendo que a jovem democracia portuguesa tenha tardado em realizar esta cerimónia, Mas ainda bem que assim foi. Feita muito mais cedo, ela não teria encontrado condições para se transformar num gesto verdadeiramente nacional, porque se teria deparado, inexoravelmente, com um contraditório de sentimentos sobre a Guerra em África que só o tempo permite colocar no seu devido contexto. Estaríamos então a debater se esta era uma homenagem às causas da guerra, dividindo-nos nisso, e não, como é nossa obrigação a prestar uma homenagem aos portugueses que serviram o seu País.

Só é possível estimular os portugueses a saber servir Portugal, se todos soubermos, devidamente homenagear aqueles que o serviram e por ele morreram. Apelo, por isso, aos portugueses para que saibam sempre servir e amar o seu país e aos poderes públicos para que saibam sempre elevar-se acima das polémicas e homenagear devidamente aqueles que o serviram.

Longe dos juízos da história, ao percorrer o silêncio irreversível daqueles nomes e o drama, irreparável, de quem perdeu a vida, evoco o sentimento e a angústia de quem perdeu os seus familiares. Não há palavras de conforto que minore esse sofrimento. Que este monumento e estas lápides fiquem, por isso, como um testemunho perene desse sacrifício feito sob a Bandeira Nacional.

Seguiu-se o descerramento das lápides que perpetuam os nomes dos militares falecidos ao serviço de Portugal.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

...em Luanda...



Breda e Isidoro, fardados a rigor, passeando na baixa de Luanda...
Julho 1973

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Recordando...



Durante a minha permanência em Angola, mais propriamente na Lumbala Nova, nunca tive a intenção de escrever um diário e, muito menos, um livro...
No entanto valendo-me de uma agenda, que havia comprado na livraria Lello em Nova Lisboa (onde também comprei o “best seller” CRISTO RECRUCIFICADO de Nikos Kazantzaki, que me custou 100 angolares), aquando do nosso embarque no “mala” (comboio dos CFB que ligava o litoral – Benguela – ao interior – Teixeira de Sousa, na fronteira - Luau - com o Zaire (ex-Congo Belga), gostava de ir anotando algumas passagens ou coisas, que na altura pareciam banais, e, hoje, leio com curiosidade.
Mas, ainda voltando a essa fugaz passagem por Nova Lisboa, para dizer que isso aconteceu no dia 22 de Agosto de 1973, depois de uma viagem desde Luanda (Grafanil) na caixa de um camião, que usualmente transportava frutas e outro produtos agrícolas do interior até Luanda.
Lembro-me que nessa viagem passamos pela Quibala e bordejamos o colonato de Cela. Chegados a Nova Lisboa, pernoitamos no quartel do EAMA e, pela manhã, avançamos até à estação dos CFB a fim de embarcar no dito comboio.
A viagem durou três dias. Ao fim do primeiro, chegamos a Silva Porto, onde o comboio parou para pernoitar. No final do segundo, a paragem foi no Luso e, no terceiro dia, chegamos a Teixeira de Sousa, depois de havermos passado as estações do Léua, Lumeje e Luacano.
Foi uma viagem de certa forma atribulada para o nosso grupo de combate, o 2º pelotão, pois das carruagens que estavam destinadas à tropa uma delas era de bancos de madeira, como o nosso grupo ficou instalado nessa no primeiro dia, o Aspirante Ulisses achou isso como uma afronta, pois tinhamos estado de serviço no dia anterior, e, embora, os nossos superiores lhe explicassem que haveria rotação de carruagens, ele por “birra” não o quis fazer e “obrigou” o grupo a permanecer nessa carruagem e a fazer toda a viagem em grande desconforto… A partir daí, alcunhou o 2º pelotão de “Os Costas Largas”, nome que nos acompanhou durante toda a comissão!
Voltando à dita agenda…
As primeiras anotações que encontro são relativas à língua da etnia LUENA, que habitava a região do Saliente Cazombo. De notar que esta língua tinha alfabeto e escrita. Consegui um dia que me dessem um pequeno livrinho com a História do Nascimento de Jesus escrito nessa língua e que havia sido publicado há muitos anos por missionários, que tiveram as suas Missões nessa região. Na Lumbala Nova, junto às laranjeiras (ao fim da pista de aterragem), ainda se podiam ver ruínas duma dessas Missões. Estas com o início da guerra foram abandonadas.
Como algumas dessas palavras ainda estarão na memória dos meus amigos, vou aqui recordá-las:
Eu – IANI; Tu – IOVE; Eles – NENO;
Sim – ENGA; Não – TCHICO; Muito – TCHICUMA ou CANA;
Saudação – MOYO ou MOYOOVE; Estás bom? – NAYOYO ou CHAMUANZA;
Dia – MUSSANA; Noite – FUCO; Hoje – LELLO; Ontem – ZAU;
Bem vindo – TAMBOKA; Amanhã - AMÉNE ;
Mentira – MACULI; Mentiroso – MACULIOVE; Verdade – TCHAMBOENDE;
Aonde – CULI; Não sei – CUIJI; Ainda – CANDA;
Vou e volto – MUKEZA; Vai embora – YAKO ou FUMACO ou FUMA;
Maluco – ZALUCA ou CHILEIA;
Casa – MUSU; Avô/Avó – CACA; Mãe – MAMA; Pai – TATA; irmão(ã) – SONGO;
Filho(a) – MAMANE; Meu neto – MUSUCOLIAMI;
Fogueira – TIJICO; Lume/Fogo – CACAIA; Tronco na figueira – COCUNHO;
Sol(calor) – MUSSANA; Estrela – TAGANHICA;
Dinheiro – JIMBONGO; Nada – PIMBE ou COCE;Cigarro – CARICANHA; Um cigarro – MACANHA; Vários cigarros – LICANHA.

E mais, encontrei escrito, num guardanapo, não sei por quem, a seguinte canção de Natal em Luena:

É Natal
É Natal
Fucu à natal
Tunguelô vossemá
Nanahililá

Jessu Nassemuca
Mieje jiáivulo
Tunguelô vossemá
Nanahililá

Mas...Há mais… Esperem pelos próximos relatos…

sábado, 11 de julho de 2009

ANGOLA À VISTA!


FOTO: Na Escola Prática de Engenharia em Tancos.
Fevereiro de 1973 (Curso de Minas e Armadilhas)


Chegamos a Luanda… A primeira imagem é toda aquela terra vermelha…África!
E lá fomos para o Grafanil… Era uma azáfama de gente (militares) e viaturas…Puseram os nossos homens numa caserna bem arejada e a nós sargentos (furriéis) numa casa de madeira em cujo telhado só se viam osgas a passear…(coitadinhas das “aborboletinhas”)… Fujimos logo dali e fomos pedir asilo na Setubalense bem perto da Mutamba (onde se apanhava o “machibombo” para o Grafanil…), até que rumamos à Funda para fazer o I.A.O., ou seja a adaptação à zona operacional… Na Funda ficamos instalados num antigo colonato e dali partíamos em pequenas operações pelas matas do Catete…Para quem desconhecia as matas e florestas africanas foi uma experiência inolvidável, onde ataques de formigas “salalé” e de pulgas “matacanhas” nos deixavam desesperados… Depois a visita a algumas fazendas da região…uma delas a Maria do Carmo ou seria Maria Helena?!...
Nos momentos de folga dávamos uns “raídes” até ao Cacuáco e tirávamos a barriguinha de misérias a comer camarão e caranguejos de Moçâmedes bem regados com uns “canhangulos”.
Mas o Leste estava à nossa espera e era preciso rumar até lá…
A 21 de Agosto partimos do Grafanil, qual carregamento de verdes melões…Todos de camuflado nas carroçarias das camionetas, que normalmente traziam frutas e produtos agrícolas do interior até Luanda…!
Passamos pela Quibala…pelos colonatos da Cela e…
Chegamos a Nova Lisboa já noite. Fomos pernoitar no quartel do EAMA.
De manhã levaram-nos para a Estação dos Caminhos de Ferro para apanharmos o comboio da linha do leste – o Mala (Caminhos de Ferro de Benguela), mas este saiu tardiamente e no primeiro dia fizemos somente um pequeno percurso até Silva Porto. No dia seguinte fomos até ao Luso…o Leste era já ali… Passávamos por estações apinhadas de gente indígena que nos tentava vender fruta ou outra coisa qualquer e os “canhicas” (assim se chamavam os miúdos – os putos – na língua Luena) pediam-nos latas (de ração de combate). Se algum de nós atendia o pedido e lhes atirava uma, era uma alegria e uma correria desenfreada a ver quem a apanhava! Numa delas cruzámo-nos com um Esquadrão de Dragões, acabados de terminar uma patrulha a cavalo pelas “chana” queimada, todos eles negros do fumo e do carvão, quase não reconhecíamos o Pereira, nosso conterrâneo de Arrancada do Vouga, furriel naquele esquadrão…
Depois eram as paragens técnicas em lugares específicos, pois era necessário que se fizesse o reconhecimento da linha a ver se estava limpa e livre de qualquer perigo…
Tudo aquilo desfilava aos nossos olhos como tirado de um filme já visto…O Dr. Jivago, mas com menos neve…e mais, muito mais, quente. E claro sem ponta de Vodka ou algo parecido!
A chegada à Vila de Teixeira de Sousa, o fim da linha, era uma festa. A vida parava na Vila para vir assistir à chegada do Mala…Era um amigo, um familiar, uma encomenda que nele chegava ou a simples curiosidade de ver chegar o comboio, o que atraia tanta gente à estação. Naquele dia chegou tropa, muita tropa… Fomos logo encaminhados para o Quartel de Teixeira de Sousa onde aguardamos pelas viaturas que nos haviam de levar picada abaixo até ao Cazombo e depois à Lumbala.
Foi mais uma aventura, pois tudo era para nós desconhecido…Quando atravessávamos alguma ponte, normalmente com sanzalas por perto, as inúmeras fogueiras faziam-nos lembrar algo irreal…Chegamos ao Cazombo, sede do Batalhão. A coluna desmembrou-se e nós seguimos mais para sul…ao longo do Zambeze.
Chegamos à Lumbala já noite. Toda ela estava iluminada com inúmeras fogueiras… A recepção, dos que lá estavam, aos “maçaricos” não podia ter sido melhor. Parecia uma cena tirada do “Apocalipse Now”, mas sem explosões, note-se… Afinal eram os substitutos, há tanto esperados, que os vinham substituir e assim proporcionar o seu regresso ao “Puto”. Ainda ficaram por lá uns dias e foram-nos transferindo instalações, experiências e até as lavadeiras…

terça-feira, 7 de julho de 2009

...e o 6º Pelotão?...



Sim, havia o 6º Pelotão!…
O dos canídeos, como diria o nosso saudoso Fernando “Bago-Mestre”.
Efectivamente a nossa companhia havia sido reforçada, como tantas outras, com um 6º Pelotão.
Afinal, não eram só os quatro pelotões de atiradores, também conhecidos pelos amanuenses de G3, e a Formação, vulgo “aramistas”, pois com excepção dos condutores auto todos os outros raramente saíam fora do arame!...

Mas voltemos ao 6º Pelotão, o dos canídeos…
E, então, era assim:
- o “LEÃO”, o “JOLY”, o “RR” do depósito de géneros, o “Passa Fome” da cozinha,
o “Papa Mike” do posto de rádio, o “SIMBA II” do 4º grupo, o “ZZ” do 2º grupo.
A Messe de oficiais tinha o “LUVAS”, o “FIDALGO”, a “Natália” e a “Milu”!
E os sargentos o “BAGAÇO”!
O Posto de Rádio tinha também a “INDIA” e na arrecadação o “ZAMBIA”…
Havia a “Arlete” na ferugem e, a “RITA”, por lá andava…
Depois houveram o LUFUIGE, o SIMBA I, o ASMÁTICO (que era o Rei e Senhor), a “CHAMUANZA”, o “ LUMBALA” e o “MORTEIRO”, que por este ou aquele motivo, na maioria vítimas de acidente, foram abatidos…
Entretanto houve regeneração e novos elementos foram aparecendo:
Para a messe de sargentos o “LUMBALA II”, para a secretaria o “ SECRETÁRIO”, na cantina o “EMBAIXADOR”, na arrecadação o “CHAMUANZA II” e o 2º pelotão com o “BB”.
Uma palavra final para o nosso “gasolinas”, o Mário Inácio, que cuidava do “TROVADOR”…

Era este o nosso 6º pelotão!
Por sinal não muito operacional, mas sempre pontual à hora do rancho!
E…divertido que "baste", para animar e entreter o pessoal no passar infindo das horas…

João Carlos Breda
Furriel Miliciano - Atirador

segunda-feira, 6 de julho de 2009

...o campo minado nas margens do Lufuíge...



No decorrer de uma operação, a nível de companhia, que nos levou a Caripande, na fronteira com a Zâmbia, ao passar pelas margens do Lufuíge, afluente do Zambeze, descobrimos um capo de minas.
Esta foto mostra um dos exemplares das cinco minas "viúva negra" levantadas pelo então furriel Breda e pelo David, 2º comandante dos GE...
A mesma sorte não tiveram os fuzileiros, que pratrulhavam a outra margem, e, embora tenhamos emitido alerta via rádio, informando da existência do referido campo minado nas margens do Lufuíge, não evitaram um rebentamento e a necessidade de uma evacuação via heli...
Momentos de grande tristeza e grande apreensão vividos naquelas paragens...

domingo, 5 de julho de 2009

XI Encontro 13.Jun.2009-Celorico De Basto



Em 2009 a realização do XI Encontro. Como acima referimos foi em Celorico de Basto, no dia 13 de Junho e contou com uma excelente organização do Silvino Maia, bem coadjuvado pelo Armando Durães e pelo Fernando Barbosa (ex-Furriel do Pelotão de Canhões, que, naqueles já longínquos anos, cedo adoptou a nossa Companhia como sendo também sua...
Estes encontros vêm sendo realizados anualmente, após uma primeira iniciativa em Montemor o Novo, numa organização do João Arraiolos.
Esse 1º Encontro, teve lugar, como já dissemos em Montemor-o-Novo, em Abril de 1999.


No ano seguinte, em 2000 - Viseu (org. Jose Ferreira e António Gomes);

Em 2001 - Ceira - Coimbra (org. Carlos Silva);

2002 - Tomar (org. Farias);

2003 - Guimarães(org. Armando Carlos Durães e Carlos Silva);

2004 - Abrantes - no Regimento de Abrantes, antigo RI 2 (org. Manuel Galinha);




2005 - Águeda - Hotel Palácio de Águeda (org. João Breda);




2006 - Lisboa (Loures-Ericeira/Rest.O Cangalho - org.Manuel Lorena e Pedro Mazoni)


2007 - Matosinhos (Custóias)- (org. Jorge Sousa);
2008 - Chaves (org. Joao Pires);

No próximo ano - 2010 - será em Santarém, numa organização do Guilherme.
Lá estaremos!

sábado, 4 de julho de 2009

As 5 equipas de futebol da nossa companhia...


FORMAÇÃO



1º PELOTÃO


2º PELOTÃO (Os Costas Largas)


3º Pelotão



4º Pelotão

ATAQUE A LUMBALA COM MISSEIS "TERRA-TERRA"...



Na foto acima, podemos ver os restos dos mísseis "Terra-Terra", que foram lançados pelo M.P.L.A. sobre a Lumbala a Nova em Julho de 1974...
Felizmente, nenhum acertou no quartel ou zonas habitadas (sanzala, aldeamento dos GE ou flechas)...
A pronta reacção das nossas tropas, que ao visualizarem um estranho foguete ("very-light"), de imediato abandonaram o campo de futebol, onde se disputava uma partida de futebol entre civis e militares, e fizeram alguns disparos de morteiro e do canhão(sem recuo), que à porta de armas se encontrava direccionado ao fim da pista de aterragem.
Deduzimos que estes primeiros disparos destruiram o posto de rádio avançado, impossibilitando que, a partir de aí fossem dadas coordenadas para direccionarem os mísseis.
Golpe de sorte ou experiência? Talvez as duas coisas...não menosprezando a experiência do nosso 1º Sargento Rodrigues, autor dos primeros disparos, e do nosso Capitão Baptista, que tendo estado neste mesmo local a estagiar como Alferes Miliano na Compamhia que viemos render, conhecia bem o "modus operandum" dos guerrilheiros do M.P.L.A., que igualmente haviam infringido um ataque ao quartel da Lumbala naquele tempo...
Como já referi em relato anterior, na altura destes acontecimentos encontrava-me em gozo de férias em Portugal, por isso qualquer erro ou omissão agradeço seja rectificado por algum companheiro com a memória mais viva.
(na foto acima podemos ver, de pé: Guilherme(condutor), o Malekas (civil ajudante de enfermeiro)e Adão (2ºPelotão). Em baixo: Pires(4ºPel.); João (ajudante padeiro), Isidoro (Furriel 1ºPel.) e Aniceto (Enfermeiro 1º Pel.).

quarta-feira, 1 de julho de 2009

M.P.L.A. na Lumbala Nova (Agosto de 1974)...




Após o primeiro encontro verificado a 6 de Agosto de 1974, um novo se seguiu, e dessa vez esteveram presentes elementos do Quartel General do M.P.L.A na região Leste com bases na Zâmbia, a partir das quais faziam as infiltrações em território Angolano. Esta nova delegação era chefiada pelo Major Orlog, o qual, segundo nos informaram mais tarde, chegou a ser Ministro da Marinha em um dos Governos após a Independência de Angola.
Nesta segunda visita houve oportunidade para estabelecer algum relacionamento com elementos daquele movimento e após o diálogo chegou-se mesmo a fazer trocas de algumas peças de fardamento e até de facas de mato.
No meu caso particular despertou-me a atenção os livros que estes traziam nas suas mochilas e que na altura eram proibidos em Portugal ou mesmo desconhecidos…

Como exemplo o Livro Vermelho de Mao Tsé-tung – CITAÇÕES DO PRESIDENTE MAO TSE TUNG, assim está escrito na sua capa vermelha. Trata-se da 1ª edição em Língua Portuguesa editado em Pequim em 1967. Este foi-me dado (ou trocado por algo que não recordo) por um camarada do M.P.L.A., e na sua primeira folha tem escrito a tinta azul: 26/10/1971 – Tanzânia Iringa Mgagão Este livro pertence ao camarada Ernesto Donji.

Mas outros vieram ter às minhas mãos, como é o caso de um livro de discursos de Amílcar Cabral, que ofereci a um amigo após o meu regresso a Portugal.
Entretanto ainda mantenho em meu poder mais os seguintes:
AGOSTINHO NETO – PRESIDENTE DO MPLA – A MESSAGE TO COMPANIONS IN THE STRUGGLE. É a transcrição de um discurso feito por Agostinho Neto em 6 de Junho de 1968 através do programa A Voz de Angola em Combate na Rádio Tanzânia. Desconheço o interesse dos guerrilheiros em trazerem este livro, já que está todo escrito em Inglês…Só se fosse para ver as fotos, onde aparece Agostinho Neto e o seu comité central: Comandantes Junginda, Toka e Monimambu. Numa outra foto aparece Deloloa (C.I.R.) com o Presidente Neto. Esta edição foi impressa pelo Liberation Support Movement (delegações de Oakland-Califórnia e Canadá).

Ainda de MAO TSE TUNG – Intervenções nos Colóquios de Ien-An sobre Literatura e Arte (Maio 1942). Este igualmente publicado em Língua Portuguesa – Pequim 1969.
Ainda estou para saber qual o interesse dos guerrilheiros, gente do povo e com pouca cultura, nestas intervenções de Mao Tse Tung sobre tais temas! Por curiosidade transcrevo a dedicatória que o camarada do MPLA me fez no dito livro: Oferece ao meu camarada Briedea o camarada do MPLA Tchapaula Terceira Guerra Mundial F.N.L.

De Vladimir Ilitch LENIN – O ESTADO E A REVOLUÇÂO (texto abreviado) – Edição dos Serviços Culturais do Comité Central do P.A.I.G.C. – 1971
Por curiosidade as mãos pelo qual este livro passou e que prova que o dito era mais do que um livro de doutrina marxista era uma cartilha para praticar a leitura da língua Portuguesa… Assim, escrito a verde logo na primeira página: Este livro pertence ao c/da Russel Portela ou Manuel Eranda Juventude – Angola Kallombo. Na folha seguinte uma outra referência de propriedade: 09/5/74 Este livro pertence ao camarada Chapaev Yank


Depois destes encontros do MPLA com o Exército Português na Lumbala Nova, de que todos nós fomos testemunhas, seguiu-se o encontro na picada do Lucusse, ai sim já com a presença de altas patentes de ambos os lados e depois todas as negociações que levaram à Independência de Angola e à total retirada das nossas Forças Militares.
Por esta razão a LUMBALA NOVA e a 1ª C.CAÇ do B.CAÇ 4212/73 escreveu uma página importante no fim das hostilidades e no advento da Republica Popular de Angola.

terça-feira, 30 de junho de 2009

...da Lumbala a Caripande...


Caripande foi em tempos o posto fronteiriço de ligação de Angola à Zâmbia pelo Saliente Cazombo (hoje desconheço se está activo!?).
Era uma pequena aldeia, composta por uma sanzala, algum comércio, posto administrativo e fronteiriço e um destacamento militar. Este pertencia à Companhia aquartelada na Lumbala.
Com a intensificação dos combates nas décadas de 60 e 70 e dada a presença de uma base do MPLA em território zambiano, a pouco kilómetros da fronteira, no tempo da Companhia anterior à nossa, foi decidido abandonar Caripande, dada a insegurança com que lá se vivia. Efectivamente Caripande era constantemente fustigada com ataques de morteiro vindos do outro lado da fronteira e, quem se encontrava em Caripande, não podia ripostar, pois isso seria violar território estrangeiro e por conseguinte infringir as leis internacionais.
Abandonado Caripande havia necessidade de manter aquela zona patrulhada, a fim de tentar controlar a infiltração de grupos do referido movimento armado ali baseado e sua possível actividade bélica, principalmente na montagem de armadilhas e colocação de minas nas picadas.
Quando efectuávamos essas patrulhas ou operações percorríamos picadas, caminhos de floresta e trilhos. Diversos obstáculos tinham de ser ultrapassados, entre os quais os rios da rede hidrográfica daquela região, alguns dos quais afluentes do Lufuige e outros como este do Zambeze. Podemos enumerá-los desde a saída da Lumbala. Assim tínhamos: o Nhamboma com o Macunhe, o Cavanda, o Luxima com o Cagila, o Chissamba, o Cacande, o Catecha, o Calupemba e o Lufuíge com o Londoge e o Lué. Por último e antes de chegar ao Caripande encontrávamos o Chibeba.
Grande parte destes era atravessado pela picada que antigamente ligava a Lumbala a Caripande e por isso havia que manter transitável e livre de qualquer perigo as pontes neles existentes. Muitas delas foram por nós reconstruídas com toros de madeira, coisa que facilmente obtínhamos com o abate de algumas árvores.
Durante a nossa estada naquelas paragens mantivemos uma intensa actividade de patrulhamento na área que nos estava adstrita e assim conseguimos manter toda a zona livre de qualquer ofensiva e as nossas picadas limpas de armadilhas. A isto não seria estranha a experiência do nosso capitão, que ali tinha feito o seu tirocínio como alferes. No entanto chegado o 25 de Abril de 1974 veio a ordem do comando da Região Militar do Luso e o cancelamento de todas as operações e suspensão de qualquer tipo de actividade. Em suma, teríamos de nos manter aquartelados mas sem efectuar patrulhas, operações ou o que quer que fosse. A guerra tinha acabado!
Puro engano…A guerra para nós tinha começado! A partir daí foi uma sucessão de acontecimentos. Primeiro sofremos um ataque ao quartel em Junho de 1974, foi o primeiro ataque desferido pelo MPLA em território angolano com mísseis terra-terra, armas que para nós eram desconhecidas. Eu encontrava-me em gozo de férias em Portugal e soube do dito através de um aerograma enviado por um companheiro, por isso não poderei relatar em pormenor o acontecimento e espero que isso venha a ser feito por algum dos presentes. No entanto, pouco tempo passado e quando já havia regressado à Lumbala, recebi correspondência do meu pai e, surpresa das surpresas, um recorte do jornal A Capital onde relatava em pormenor o referido ataque à Lumbala. Segundo o qual a Lumbala havia sido completamente destruída e as baixas mais que muitas…No entanto isso não passava de pura propaganda, pois dos ditos terra-terra nem um acertou no nosso quartel ou até mesmo na sanzala ou acampamentos circundantes dos GE e Flechas… Sem mais comentários…


Logo a seguir sofremos uma emboscada à escolta do MVL já a poucos quilómetros de Teixeira de Sousa. Aí sim a vítimas mortais aconteceram…
Aquando deste acontecimento encontrava-me eu no Luso, de regresso de férias. Quando a notícia lá chegou e dela tive conhecimento corri ao hospital a ver se chegavam feridos.
No dia seguinte segui no mala para Teixeira de Sousa aonde vim encontrar os meus companheiros, de coração destroçado pelas perdas sofridas. Regressei à Lumbala nesse mesmo MVL, e como regressava de férias não tinham farda nem armamento, pelo que tive de improvisar uma farda e a minha arma de defesa foi uma pistola Walter…

Depois disto outros trágicos acontecimentos surgiram… uma mina na picada quando o 1º grupo ía à lenha para os lados do Cavanda (estrada de Caripande) e logo o despoletar de algumas armadilhas instaladas na mata circundante…Alguns companheiros feridos e a necessitar de evacuação por via aérea…
Mais tarde o accionamento de duas minas, que embora se encontrassem instaladas lado a lado (à distância do rodado de uma Berliet), foram rebentadas em dias separados, primeira pela roda de uma Mercedes e a segunda por um Unimog, na picada entre a Lumbala e o Chilombo (direcção do Cazombo).
Esta última causou o momento mais negro da nossa jornada em Angola, o de maior sofrimento, terror e raiva vivido pela nossa Companhia.

Após o 25 de Abril aquela zona tornou-se efectivamente no “Champ Minnée”, como dizia o mapa que encontrámos pintado na parede do bar da messe de sargentos, no dia em que chegámos à Lumbala!

Nota: O autor foi Furriel Miliano do 2º Grupo de Combate da 1ª Companhia de Caçadores do Batalhão 4212/73 aquartelado na Lumbala Nova.


Entre 1960 e 1974 estiveram envolvidos nas guerras do ultramar, cerca de um milhão e meio de soldados portugueses. Infelizmente, as razões políticas que se opunham a essas guerras, têm tido até hoje mais força, do que o sacrifício de todos aqueles lhe nelas foram obrigados a participar, e a vozes que se ouvem contando a origem e a história dessas guerras , são infelizmente, as daqueles dos que por objecção de consciência ou por comodidade pessoal, saíram para fora de Portugal e nelas não quiseram participar.

Durante os tempos de Oliveira Salazar, afixaram-se pelas paredes de Portugal, muitos cartazes de propaganda, em que entre muito outras coisas se puderam ler de Camões, canto IV, estrofe XXXIII :
"Dizei-lhe que também dos Portugueses / Alguns traidores houve algumas vezes"
Claro que Camões não se referia ao século XX, mas sim àqueles portugueses, que nos tempos de D. João I, se passaram para o lado de Castela e combateram contra os interesses nacionais de Portugal. É certo que hoje se pode aceitar que para esses portugueses, a noção de respeito pela sucessão dinástica era mais importante que a noção de pátria portuguesa, compreendendo a sua tomada de posição nessas guerras.

O que seria inaceitável, era que esses portugueses que combateram por Castela, tivessem escrito a história lusitana sob o seu ponto de vista, esquecendo ou minimizando aqueles que realmente, combateram e sofreram por Portugal.

Assim os combatentes das guerras do ultramar, deverão deixar de se esconder como se fossem criminosos e gritar orgulhosamente como os espartanos de Leónidas - dizei a Portugal, que morremos, por obedecer às suas ordens -.

Nota do autor: Este artigo foi retirado da internet "in Memórias da Guerra 1961-1974".

domingo, 28 de junho de 2009

LUMBALA - " A NOVA "


Assim se chamava a localidade onde a nossa companhia esteve aquartelada.
Pertencia à antiga província do Moxico, cuja capital era o Luso, hoje ambos os nomes foram substituídos por LUENA, nome da etnia indígena que habitava aquela região do planalto, onde existia o Parque Nacional da Cameia.
Situava-se naquele quadradinho no Leste de Angola, mais conhecido pelo Saliente Cazombo. Ficava na margem esquerda do Rio Zambeze entre as confluências dos rios Luena e Lumbala e era atravessada pela estrada que ligava o Cazombo (Alto Zambeze) a Caripande, na fronteira com a Zâmbia.
Na margem direita encontrava-se a Lumbala “a Velha”, onde outro destacamento militar se encontrava aquartelado, e da qual partia a estrada de ligação ao Lucusse.
No presente toda essa toponímia está um pouco alterada e nas buscas efectuadas pouco conseguimos apurar, desconhecendo se alguma destas localidades está habitada, pois a guerra e a fome obrigaram as populações a movimentarem-se para outras áreas dentro e fora do território angolano.
Quando pesquisávamos a palavra Lumbala, apareceu-nos uma nova localidade com a toponímia Lumbala-N’Guimbo, situada onde antes era N’Guimbo e, no nosso tempo, julgo que, Gago Coutinho (terra dos Bundas). Cheguei a esta conclusão porque o seu “aeroporto” tem a sigla “GGC” !

Voltando à região calcorreada por nós de Agosto de 1973 até Novembro de 1974, para falar da estrada que nos levava à sede do batalhão – Cazombo. Seguíamos para Norte, eram uns 100km de picada, experimentando grande dureza e atravessávamos numerosas pontes construídas com troncos de árvores. A primeira povoação que encontrávamos era o Chilombo, igualmente na margem esquerda do Zambeze, onde se encontrava um destacamento de Fuzileiros, depois seguiam-se outras de menor importância e enfim o Cazombo. Aqui, a possibilidade de irmos beber uma cerveja ou comer uma alheira com um ovo estrelado ao “civil”, assim chamávamos aos bares e restaurantes dos comerciantes por ali estabelecidos.
Quando nos calhava a sorte de termos de fazer a escolta ao MVL, então, no dia seguinte seguíamos mais para Norte até ao Cavungo (Nana Candungo) e dali até ao Marco 25, a partir do qual percorríamos a fronteira com o Zaire (ex-Congo Belga) até chegar a Vila Teixeira de Sousa (Luau), onde os comerciantes civis se vinham abastecer.
Teixeira de Sousa era servido pelos CFB (Caminhos de Ferro de Benguela), via de comunicação importantíssima tanto para Angola como para outros países do interior africano, principalmente o Zaíre e, já na altura se mostrava como uma pequena cidade em embrião.
Aqui chegamos de comboio a 24 de Agosto de 1973 e daqui seguimos em sentido inverso até à Lumbala, lembro essa viagem alucinante na caixa de camiões de carga e recordo a passagem pelas povoações e a chegada à Lumbala um pouco à laia de algumas passagens do filme “Apocaplipse Now”! Tudo aquilo para nós era o desconhecido…e a recepção dispensada, a nós “maçaricos”, algo que perduraria na nossa memória.
Ainda falando de Teixeira de Sousa, ali encontrávamos um pouco mais de civilização e, além de podermos ir ao cinema ou a uma matinée dançante, podíamos nos deliciar com uns bons mergulhos na piscina do Luau, junto à fronteira com o Zaire.
De Teixeira de Sousa seguia depois a estrada para Nova Chaves, Henrique de Carvalho, Malange, Salazar…até Luanda. Hoje olhamos o mapa e não conseguimos decifrar este itinerário, o qual, percorremos, no final, aquando do nosso regresso a Luanda, pois a toponímia é totalmente diferente!

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Memórias...




É tempo de exorcizar fantasmas…!
De dizer tudo aquilo que nos vai cá dentro e que calámos anos e anos…
De repente, vestem-nos uma farda verde e dizem-nos que somos soldados. Fazem-nos estudar tácticas e armamento, exercitar o físico e fazer marchas carregados como asnos.
Põem-nos uma arma na mão e somos obrigados a disparar sobre alvos móveis e fixos…
Tudo isto acompanhado de impropérios e dos mais “altos elogios” e “apelidos” que elevam o moral ao ser mais inferior… Depois são as palestras, as tácticas e técnicas de guerrilha, mas quem as ministra? Gente conhecedora e com experiência no terreno? Não! Soldados que como nós, feitos à pressa e após seis meses julgavam já estar aptos a ensinar aquilo que não aprenderam… Tivemos sorte, mesmo muita sorte…O nosso comandante de pelotão na recruta ministrada nas Caldas da Rainha era o Alferes Brito…diziam que já deveria ser Capitão e estar a comandar uma companhia qualquer no Ultramar…mas não! Estava ali, porque, diziam, tinha apanhado uma “porrada” na Guiné!… Aprendemos mais com ele na recruta do que em Tavira na especialidade! Mais tarde em Angola, na Lumbala, viemos a reencontrá-lo. Era o comandante da Z.O.Leste dos G.E.s (Grupos Especiais). Ficamos felizes. Tinha sido feita justiça com o reconhecimento do seu real valor como militar. Com homens como ele a ensinar, a dar testemunho da sua experiência tudo teria sido mais fácil e muitas vidas poupadas…
Mas não, passados três meses em Tavira onde a diversão dos graduados era levar os instruendos às salinas a fim sujarem a farda e com ela o passaporte ou título de dispensa, que nos levava para fora do quartel, pelo menos por algumas horas, era o prato forte…
Um dia, depois de na Atalaia termos efectuado dos mais degradantes exercícios, através de esgotos e arame farpado, para gáudio dos instrutores que deliravam ao ver e a escarnecer do espectáculo, fizeram-nos subir ao muro e ao pórtico…Lá em cima a pernas tremiam-nos. Não de medo, mas sim de revolta, de raiva e, olhando lá ao longe as salinas e o mar e no horizonte uma linha…pensávamos para ali fica Marrocos…




Memórias – parte II

Mas aguentamos, e, em Janeiro de 1973, esperámos ansiosamente receber a carta que ditaria a nossa sorte. Mais do que nós sofriam os entes queridos…Minha Mãe não resistiu à espera e, na véspera de receber a guia de marcha, despediu-se de todos nós…
Apresentei-me mais pobre no R.I. 2 em Abrantes no dia 8 de Janeiro…Ali estivemos um mês a dar recruta a soldados que formavam Batalhão para Moçambique, o B.CAÇ 4211/73, e lá tive de pôr à prova o pouco que tinha aprendido mas, que ao transmitir àqueles homens, por certo lhes seria útil dada a incógnita do que iriam encontrar… Em Fevereiro marchei até Tancos, ao Casal do Pote, onde na arma de Engenharia fui introduzido nas artes das Minas e Armadilhas. Aqui sim, o profissionalismo existia e os ensinamentos técnicos com base nas leis da física e da química, passavam além da prática, preparando-nos para o que pudéssemos vir a encontrar… Mas o IN era esperto e bem apoiado, por isso nem tudo o que ali aprendemos, na maioria baseado nas técnicas da guerra convencional de trincheira , seria o que depois enfrentaríamos, embora muitas das armadilhas da guerrilha já ali nos fossem mostradas. Por fim, de lá saímos com o crachat “Argúcia e Audácia” e regressamos a Abrantes.

Abrantes do Pelicano e das travessas de febras fumegantes e de batatas fritas estaladiças, la para os lados do Rossio ao Sul do Tejo, na Chainça… Das partidas de matraquilhos em Rio de Moinhos no curto intervlalo de almoço ou dos “raides” a Tomar, Torres Novas ou Entroncameto… Eram estas as recordações que levávamos!...
E de uma noite louca em que, com os amigos naturais de Lisboa e não só, decidimos ir ao arraial de Santo António a Lisboa…depois de uma “bacalhauzada” no João do Grão, corremos diversos bairros e acabamos em Alfama…Quando regressamos a Abrantes já estava a malta na parada para a formatura do pequeno almoço…Foi uma directa!

Mas havia que preparar os nossos homens para aquela jornada em África…Já se falava em Angola, já que o anterior batalhão tinha rumado a Moçambique. Demos o melhor de nós, afinal era com eles que iríamos contar e ter de enfrentar o desconhecido…
Foram meses duros…ainda mais, porque tínhamos alguém a quem obedecer que por vezes fazia pouco para o merecer… Por alguma razão se manteve como foi até ao final da comissão!
Depois a surpresa que muito nos agradou… O nosso Capitão havia estado, no Leste de Angola, como Alferes Miliciano, exactamente no mesmo local onde a nossa companhia estava destinada… A Lumbala.
Concluída a formação do Batalhão mais algumas peripécias com a partida…Partida marcada, parte não parte…Duas despedidas à família… E alguns já diziam: Isto é tudo psico! Eu sei lá o que era, mas que era muito mau, era!
O dia D enfim chegou e lá partimos num voo dos TAM cerca das 23h…que, por sinal após uma hora e meia de viagem, teve de regressar a Figo Maduro… Era mais psico? Não! Era mesmo avaria e só voltámos a embarcar era já madrugada…


Memórias – parte III

Chegamos a Luanda… A primeira imagem é toda aquela terra vermelha…África!
E lá fomos para o Grafanil… Era uma azáfama de gente (militares) e viaturas…Puseram os nossos homens numa caserna bem arejada e a nós sargentos (furriéis) numa casa de madeira em cujo telhado só se viam osgas a passear…coitadinhas das “aborboletinhas”…Fujimos logo dali e fomos pedir asilo na Setubalense bem perto da Mutamba (onde se apanhava o “machibombo” para o Grafanil…) até que rumamos à Funda para fazer o I.A.O., ou seja a adaptação à zona operacional… Na Funda ficamos instalados num antigo colonato e dali partíamos em pequenas operações pelas matas do Catete…Para quem desconhecia as matas e florestas africanas foi uma experiência inolvidável, onde ataques de formigas “salalé” e de pulgas “matacanhas” nos deixavam desesperados… Depois a visita a algumas fazendas da região…uma delas a Maria do Carmo ou seria Maria Helena?!...
Nos momentos de folga dávamos uns “raídes” até ao Cacuáco e tirávamos a barriguinha de misérias a comer camarão e caranguejos de Moçâmedes bem regados com uns “canhangulos”.
Mas o Leste estava à nossa espera e era preciso rumar até lá…
A 21 de Agosto partimos do Grafanil, qual carregamento de verdes melões…Todos de camuflado nas carroçarias das camionetas, que normalmente traziam frutas e produtos agrícolas do interior até Luanda…!
Passamos pela Quibala…pelos colonatos da Cela e…
Chegamos a Nova Lisboa já noite. Fomos pernoitar no quartel do EAMA.
De manhã levaram-nos para a Estação dos Caminhos de Ferro para apanharmos o comboio da linha do leste – o Mala (Caminhos de Ferro de Benguela), mas este saiu tardiamente e no primeiro dia fizemos somente um pequeno percurso até Silva Porto. No dia seguinte fomos até ao Luso…o Leste era já ali… Passávamos por estações apinhadas de gente indígena que nos tentava vender fruta ou outra coisa qualquer e os “canhicas” (assim se chamavam os miúdos – os putos – na língua Luena) pediam-nos latas (de ração de combate). Se algum de nós atendia o pedido e lhes atirava uma, era uma alegria e uma correria desenfreada a ver quem a apanhava! Numa delas cruzámo-nos com um Esquadrão de Dragões, acabados de terminar uma patrulha a cavalo pelas “chana” queimada, todos eles negros do fumo e do carvão, quase não reconhecíamos o Pereira, nosso conterrâneo de Arrancada do Vouga, furriel naquele esquadrão…
Depois eram as paragens técnicas em lugares específicos, pois era necessário que se fizesse o reconhecimento da linha a ver se estava limpa e livre de qualquer perigo…
Tudo aquilo desfilava aos nossos olhos como tirado de um filme já visto…O Dr. Jivago, mas com menos neve…e mais, muito mais, quente. E claro sem ponta de Vodka ou algo parecido!
A chegada à Vila de Teixeira de Sousa, o fim da linha, era uma festa. A vida parava na Vila para vir assistir à chegada do Mala…Era um amigo, um familiar, uma encomenda que nele chegava ou a simples curiosidade de ver chegar o comboio, o que atraia tanta gente à estação. Naquele dia chegou tropa, muita tropa… Fomos logo encaminhados para o Quartel de Teixeira de Sousa onde aguardamos pelas viaturas que nos haviam de levar picada abaixo até ao Cazombo e depois à Lumbala.
Foi mais uma aventura, pois tudo era para nós desconhecido…Quando atravessávamos alguma ponte, normalmente com sanzalas por perto, as inúmeras fogueiras faziam-nos lembrar algo irreal…Chegamos ao Cazombo, sede do Batalhão. A coluna desmembrou-se e nós seguimos mais para sul…ao longo do Zambeze.
Chegamos à Lumbala já noite. Toda ela estava iluminada com inúmeras fogueiras… A recepção, dos que lá estavam, aos “maçaricos” não podia ter sido melhor. Parecia uma cena tirada do “Apocalipse Now”, mas sem explosões, note-se… Afinal eram os substitutos, há tanto esperados, que os vinham substituir e assim proporcionar o seu regresso ao “Puto”. Ainda ficaram por lá uns dias e foram-nos transferindo instalações, experiências e até as lavadeiras…



Memórias – parte IV

À primeira vista tínhamos mesmo vindo cair num buraco…mas depois dando uma volta pelas redondezas verificámos que não estávamos assim tão mal…O Zambeze corria ali mesmo ao lado…o que nos garantia água com abundância. Tínhamos uma pista de aviação onde o Nord Atlas vinha periodicamente trazer correio, víveres ou transportar pessoas…Ao nosso lado o aldeia onde viviam os G.E.s e seguindo a estrada, que nos levava ao rio e à barcaça que nos atravessava para a Lumbala Velha, encontrávamos a casa do Administrador e a da D.G.S. e logo a seguir a Sanzala. Em frente a esta o aldeamento dos Flechas e mais à frente a loja do civil… Era a Lumbala Nova!

Numa primeira palestra o nosso Capitão começou por nos avisar que a nossa tarefa naquela região iria ser árdua. Teríamos de manter o respeito e fazer com que o M.P.L.A. não se aproximasse do nosso aquartelamento, de molde a permitir que nos fizessem qualquer ataque, o que já tinha acontecido anteriormente quando lá tinha estado como Alferes… A partir daí não mais dormimos todos juntos no nosso quartel, já que diariamente um grupo de combate se encontrava fora do arame em patrulha ou operação, normalmente para as proximidades do Lufuige, ou seja da fronteira com a Zâmbia, pois era daí que vinha o perigo (as infiltrações do M.P.L.A.).
No passado a existência de um destacamento em Caripande, posto fronteiriço entre Angola e Zâmbia, servia de tampão e matinha esse respeito, mas sofriam tantos ataques de morteiro por parte do M.P.L.A. com uma base dentro do território Zambiano, a poucos quilómetros da fronteira, que o comando do Luso mandou retirar esse destacamento. Após esse abandono por parte dos militares, Caripande morreu, tendo sido abandonado pelas populações e outros serviços lá existentes. Fomos lá numa operação…Era uma aldeia fantasma com as ruínas invadidas por vegetação. Do posto fronteiriço apenas a existência de uma barreira e de um polícia zambiano, que olhou para nós com um olhar espantado, pois há muito que não via gente do nosso lado! Estivemos por ali pouco tempo não fossem os nossos antagonistas avisados e de imediato viesse uma chuva de “ameixas”…
Joao Carlos Breda (ex-Furriel Miliciano)