quinta-feira, 14 de junho de 2012

HISTORIA DE PORTUGAL - Volume XVIII -O Prefacio de J.Verissimo Serrao

- «No drama profundo que avassalou a vida portuguesa entre 1960 e 1974, uma pergunta fará sentido: houve ou não portugueses que aceitaram a autonomia imediata das províncias ultramarinas? Quando se tem presente que os republicanos de formação democrática se puseram ao lado do regime vigente em defesa do Ultramar português, talvez se compreenda melhor a génese do problema ultramarino. Porque as possessões de além-mar faziam parte de um Portugal disseminado pelos quatro cantos do mundo. Nessas longínquas parcelas viviam portugueses de alma e coração e já a I República entrara na Grande Guerra para defender o que considerava pedaços distantes do Portugal europeu. Como poderiam democratas impolutos como o general Norton de Matos, o Dr. Jaime Cortesão, o Engenheiro Cunha Leal e outros que já haviam fechado os olhos, aceitar que as terras de África e do Oriente deixassem de ser portuguesas? As "campanhas de pacificação", a que os políticos e ideólogos de formação marxista continuam a apelidar de "guerras coloniais", careciam de ser vistas numa perspectiva absolutamente portuguesa. Apenas se pode negociar com os nossos adversários quando a sorte das armas nos coloca na posição de quem possui interesses nacionais a defender. Quanto mais não seja, o sentimento pátrio que qualquer nação forja por sustentar tem uma forte raiz cultural de que um povo consciente nunca prescinde. A concepção neocolonialista que então se gerou contra Portugal deformou a visão da História que cada nação considera um ser próprio fundado nas raízes do passado. Como se Portugal não tivesse o direito a orientar a sua política externa no sentido mais adequado ao seu passado ultramarino! Que imensa tristeza nos provoca a leitura das 2Quase Memórias2 do Dr. António de Almeida Santos (Volumes I-II, Lisboa, 2006), onde se critica a II República por não ter aceite o processo das independências coloniais. Um advogado de superior craveira põe-se a historiar o passado sem atributos para o fazer, e o resultado fica bem à vista. São lugares-comuns e juízos sem prova, até com o desplante de rebaixar um mestre da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, ousando revelar conversas privadas e o "diz-se" de versões deturpadas. Como é fraco o talento de um abalizado causídico que, em vez de se quedar para sempre em Moçambique, onde lhe estaria reservada a presidência da nova República, voltou à metrópole com os proventos amealhados numa conspiração consentida. E que hoje recolhe as frustrações de quem não soube fazer uma carreira política nesta metrópole onde praticamente ninguém deu pelo seu regresso!» (Joaquim Veríssimo Serrão, «História de Portugal, XVIII, Verbo, Lisboa 2010)

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