sábado, 11 de julho de 2009

ANGOLA À VISTA!


FOTO: Na Escola Prática de Engenharia em Tancos.
Fevereiro de 1973 (Curso de Minas e Armadilhas)


Chegamos a Luanda… A primeira imagem é toda aquela terra vermelha…África!
E lá fomos para o Grafanil… Era uma azáfama de gente (militares) e viaturas…Puseram os nossos homens numa caserna bem arejada e a nós sargentos (furriéis) numa casa de madeira em cujo telhado só se viam osgas a passear…(coitadinhas das “aborboletinhas”)… Fujimos logo dali e fomos pedir asilo na Setubalense bem perto da Mutamba (onde se apanhava o “machibombo” para o Grafanil…), até que rumamos à Funda para fazer o I.A.O., ou seja a adaptação à zona operacional… Na Funda ficamos instalados num antigo colonato e dali partíamos em pequenas operações pelas matas do Catete…Para quem desconhecia as matas e florestas africanas foi uma experiência inolvidável, onde ataques de formigas “salalé” e de pulgas “matacanhas” nos deixavam desesperados… Depois a visita a algumas fazendas da região…uma delas a Maria do Carmo ou seria Maria Helena?!...
Nos momentos de folga dávamos uns “raídes” até ao Cacuáco e tirávamos a barriguinha de misérias a comer camarão e caranguejos de Moçâmedes bem regados com uns “canhangulos”.
Mas o Leste estava à nossa espera e era preciso rumar até lá…
A 21 de Agosto partimos do Grafanil, qual carregamento de verdes melões…Todos de camuflado nas carroçarias das camionetas, que normalmente traziam frutas e produtos agrícolas do interior até Luanda…!
Passamos pela Quibala…pelos colonatos da Cela e…
Chegamos a Nova Lisboa já noite. Fomos pernoitar no quartel do EAMA.
De manhã levaram-nos para a Estação dos Caminhos de Ferro para apanharmos o comboio da linha do leste – o Mala (Caminhos de Ferro de Benguela), mas este saiu tardiamente e no primeiro dia fizemos somente um pequeno percurso até Silva Porto. No dia seguinte fomos até ao Luso…o Leste era já ali… Passávamos por estações apinhadas de gente indígena que nos tentava vender fruta ou outra coisa qualquer e os “canhicas” (assim se chamavam os miúdos – os putos – na língua Luena) pediam-nos latas (de ração de combate). Se algum de nós atendia o pedido e lhes atirava uma, era uma alegria e uma correria desenfreada a ver quem a apanhava! Numa delas cruzámo-nos com um Esquadrão de Dragões, acabados de terminar uma patrulha a cavalo pelas “chana” queimada, todos eles negros do fumo e do carvão, quase não reconhecíamos o Pereira, nosso conterrâneo de Arrancada do Vouga, furriel naquele esquadrão…
Depois eram as paragens técnicas em lugares específicos, pois era necessário que se fizesse o reconhecimento da linha a ver se estava limpa e livre de qualquer perigo…
Tudo aquilo desfilava aos nossos olhos como tirado de um filme já visto…O Dr. Jivago, mas com menos neve…e mais, muito mais, quente. E claro sem ponta de Vodka ou algo parecido!
A chegada à Vila de Teixeira de Sousa, o fim da linha, era uma festa. A vida parava na Vila para vir assistir à chegada do Mala…Era um amigo, um familiar, uma encomenda que nele chegava ou a simples curiosidade de ver chegar o comboio, o que atraia tanta gente à estação. Naquele dia chegou tropa, muita tropa… Fomos logo encaminhados para o Quartel de Teixeira de Sousa onde aguardamos pelas viaturas que nos haviam de levar picada abaixo até ao Cazombo e depois à Lumbala.
Foi mais uma aventura, pois tudo era para nós desconhecido…Quando atravessávamos alguma ponte, normalmente com sanzalas por perto, as inúmeras fogueiras faziam-nos lembrar algo irreal…Chegamos ao Cazombo, sede do Batalhão. A coluna desmembrou-se e nós seguimos mais para sul…ao longo do Zambeze.
Chegamos à Lumbala já noite. Toda ela estava iluminada com inúmeras fogueiras… A recepção, dos que lá estavam, aos “maçaricos” não podia ter sido melhor. Parecia uma cena tirada do “Apocalipse Now”, mas sem explosões, note-se… Afinal eram os substitutos, há tanto esperados, que os vinham substituir e assim proporcionar o seu regresso ao “Puto”. Ainda ficaram por lá uns dias e foram-nos transferindo instalações, experiências e até as lavadeiras…

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